Month: April 2013 Page 1 of 4

Superando a cacofonia da Babel

babel

Nos estudos que fiz durante a produção da minha tese de laurea magistrale, um dos aspectos que mais refleti foi a respeito da “incomunicação” existente no contexto atual. Mesmo em um mundo que, segundo Wolton, “todo mundo vê tudo, ou quase tudo”, não se compreende melhor aquilo que acontece. “A visibilidade do mundo não basta para torná-lo mais compreensível”, afirma o comunicólogo francês.

Wolton explica que o fim das distâncias físicas proporcionadas pela globalização revela, na verdade, “a incrível extensão das distâncias culturais”. Mesmo que as técnicas sejam homogêneas, o mundo preserva sua essência heterogênea.

A sonhada “Aldeia Global” apresentada pelo pensador canadense Marshall McLuhan é, na verdade, “cacofonia de Babel”.  Para Wolton “hoje a facilidade de comunicar dá o falso sentimento de que seja mais fácil compreender-se”. Contudo, nas pontas dos canais e redes de comunicação, encontramos frequentemente a incompreensão, para não dizer a “incomunicação”.

Neste contexto emerge também a questão da identidade. Historicamente lutada, sofrida e conquistada com o sangue de muitos, é difícil a sociedade abrir mão dela. Assim, de maneira natural, quanto mais os homens entram na globalização, mais eles querem afirmar suas raízes. Para o comunicólogo francês, tudo isso evidencia a necessidade de, “quanto mais comunicação e trocas houver, mais será preciso respeitar as identidades”.

Na prática, o desafio da comunicação contemporânea é marcado por constantes insucessos. Um exemplo simbólico é a da manipulação da informação feita pela rede de televisão americana CNN.  Além de suscitar oposições crescentes, desde a primeira guerra do Iraque (1991) e no pós 11 de setembro de 2001, a CNN, em vez de aproximar os pontos de vista, aumentou as distâncias culturais, exacerbando os maus entendidos.

O fato é que, como evidencia Wolton, “a globalização da informação cria um processo que foge a todo o mundo”, do qual é difícil controlar. Por isso, afirma o comunicólogo francês, “é preciso pensar a comunicação considerando a diversidade cultural”, em que os diferentes povos e culturas sejam respeitados. “Não há informação nem comunicação, sem o respeito do outro, do receptor”, afirma Wolton.

Eliane Brum no Provocações

Programa 553 com a repórter Eliane Brum – 19/03/2013

eliane e abujamra

Antes de ir conferir no wikipedia, poderia jurar que a jornalista Eliane Brum é gaúcha, pelo sotaque e pelos “tiques regionalistas” que eu só encontrei nos meus amigos do extremo sul do Brasil.

E eu acertei.

Natural de Ijuí, pequeno município gaúcho de quase 80 mil habitantes, Eliane Brum é hoje colunista da revista Época. Formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), em 1988, Eliane ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem.

Já havia visto que muitos dos meus colegas jornalistas “partilhavam” alguns dos seus textos na rede social, mas nunca tive o desejo de parar para lê-los. Contudo, quando vi que o grande Abujamra tinha entrevistado Eliane, fui correndo assistir, almejando descobrir os motivos de tanto prestígio.

Diante de Abujamra, Eliane Brum falou de jornalismo e humildade, escuta, silêncio, lembrando-me do livro que estou lendo atualmente, do “mass-midiologista” italiano Michele Zanzucchi: “Il silenzio e la parola. La luce”, que apresenta justamente o silêncio como “principio esquecido” na profissão do jornalista.

“Eu não falo daquilo que eu não vou ver”. “A periferia e a Amazônia são abstrações”. Duas frases, que no discurso de Eliane não estavam diretamente ligadas, mas que têm quase uma relação causa-consequência ao inverso. Hoje, grande parte da população rica do país e também os “pobres ignorantes” exclui o contexto periférico das cidades, da sua concepção de espaço publico. E mesmo os intelectuais que defendem os direitos dos marginalizados, tiram conclusões por meio de livros, notícias de jornais… transformando a ignorância em cultura.

Sinceramente, não achei a Eliane uma boa entrevistada. Mais pelo jeito um pouco irritante, o tom de voz e uma certa antipatia. Provavelmente ela se dá melhor entrevistando. Contudo, é inegável a importância do seu discurso, sendo assim um programa que vale a pena ver.

Bloco1:

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Bloco2:

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Bloco3:

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Morar fora? Pra que?

globeinhands

Eu passei quase metade dos últimos 10 anos vivendo no estrangeiro. O “glamour” desse fato, porém, se desfaz no que acredito serem as principais riquezas dessa experiência: o árduo exercício de “inculturação” e a valorização da própria cultura.

Quando nos limitamos a viver em um espaço físico reduzido, muitas vezes temos uma visão proporcional às coisas e o mundo. Ampliando os limites adquirem-se outras perspectivas, que nos transformam na essência e nos fazem ver que muitas experiências podem ser vividas de maneira completamente diferente e, mesmo assim, darem certo. É neste aspecto que se traduz a “inculturação”, completamente diferente de conhecer “o diferente” em passeios turísticos.

Adaptar-se a uma nova cultura é um exercício doloroso. Nesse processo de “perda” existe muita fadiga, revolta, sacrifício, mas que, quando superados, nos ajudam a crescer.

As maiores dificuldades são em relação ao clima, à comida e o idioma. Esse “triplo obstáculo” fundamenta qualquer processo de adaptação e se não for vencido, acaba transformando qualquer aventura em uma experiência traumática.

Depois dessa primeira fase, a vida no estrangeiro melhora bastante. Começamos a nos sentir bem, nos comunicar com os outros e, com isso, surgem outros dois novos desafios, menores, mas potencialmente destrutivos, se não forem lidados de maneira positiva: a não aceitação da diferença (ou a constante comparação) e a saudade.

Viver com “o diferente” nos leva constantemente a confrontar seus hábitos com os nossos esquemas psicológicos, construídos no processo de crescimento. A afetividade, abertura, seriedade, justiça, pontualidade… modos e valores… se plasmaram de maneira diferente em todo o mundo. A consciência (ou inconsciência) em relação a isso pode nos aproximar ou nos afastar da cultura alheia. Impedir-nos de entrar em profundidade, nos deixando simplesmente “fora” da vivência cultural.

As experiências que fiz me ensinaram a estar sempre aberto. Saber que “inculturação” exige, sempre, renúncia, mas que, por outro lado, promove benefícios profundos no nosso desenvolvimento.

Porém, mesmo o mais “inculturado” dos “estrangeiros” vai ter que aprender a lidar também com a saudade. Estar em outra cultura é sempre “estar em outra casa”. Nós temos raízes, origens, que nada é capaz de apagar. Basta ouvir alguém falando a nossa língua, usar a camiseta do nosso país, ouvir uma música ou encontrar alguém que conhece a nossa “casa” que a saudade “bate”.

E ter saudade é sinal de reconhecimento! É ter certeza de que somos de um determinado lugar, fruto de uma determinada cultura. Contudo, como qualquer sentimento, a saudade também pode ser controlada. Aprender a lidar com ela pode nos ajudar a redimensionar o significado de família, nação, casa.

Essa foi uma das experiências mais bonitas que fiz vivendo fora do país. Depois de tanto tempo longe, entendi que minha família, meu país, amigos, podem ser também aqueles com quem eu partilho cada momento, independente de onde esteja.

Superados estes desafios, descobre-se o quanto é bom morar fora. Uma experiência que todos deveriam fazer.

Um novo amor

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O amor é como uma brisa serena de outono, que entra e refresca o ambiente abafado pelo verão. É tão delicado que passa despercebido, funde-se no cotidiano, nos sorrisos, beijos e abraços desinteressados. Esse “tal” sentimento existe! Não é ideologia, sentimentalismo, ilusão, engano.

Foi esse amor que descobri em um (re)encontro, no Aeroporto de Cumbica, dia 7 de fevereiro de 2010. Ali começava uma aventura difícil de comunicar, mais fácil, porém, especialmente hoje, admirar.

Os 24 anos da minha amada esposa, Flavia, não são muitos. Sim, ela é muito nova. Nova para ser esposa e viver do outro lado do Atlântico, em outra cultura, distante da família. Nova para ter se arriscado em um amor “além das fronteiras” da segurança helvética. Muito Nova.

Eu, claro, vejo de outra maneira. A Flavia tem pressa pra ser feliz, para viver experiências grandes, fortes, bonitas, desafiadoras e, claro, viver cada coisa JUNTOS.

A novidade dessa vida se manifesta na beleza do cotidiano. No descobrir o que o “outro” gosta, desenvolver a paciência, entender o valor da diferença. Tudo no dia a dia, simples, verdadeiro e, por isso, perfeito.

O amor, mencionado, sentimento ontologicamente simples, se manifesta assim na sua, na nossa vida. Não é euforia, exagero, descontrole. É viver com Deus, entre nós e com uma multidão de “outros” maravilhosos, que nos aturam, ajudam e apoiam.

Com a minha esposa redescobri o significado subjetivo do Amor que, contudo, sempre se renova. A explicação objetiva, que exprima o quanto viver dessa maneira VALE A PENA, talvez eu ainda seja muito novo para dar.

Texto em homenagem à minha esposa Flavia e o início desse novo ano. Desejos de um amor que seja sempre capaz de se renovar, nas três dimensões fundamentais.

Lembranças quatro meses depois…

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E aí, tá nervoso? Tudo bem? Nervoso? Como você se sente? Impossível contar quantas vezes os convidados que encontrei na porta da igreja me fizeram perguntas do gênero. Mas não, as lembranças ainda me confirmam: Eu realmente não estava nervoso.

Ninguém sabe, porém, o que tinha se passado alguns minutos antes de vestir meu “vestido de noivo”.

Sentado no quintal da casa onde a família da Flavia estava hospedada, tive meu momento de intimidade com meu Deus. Olhando a natureza à minha volta, pensava nesse grande acontecimento da minha vida… todo o caminho percorrido, as dificuldades, inúmeras crises, mas sempre acreditando no Seu amor incondicional.

Assim, por ser cristão, decidi rezar um terço (a terça parte do Santo Rosário), oração que, para mim, é um momento de adoração e agradecimento por tudo aquilo que Deus me permite viver.

Depois daqueles minutos íntimos, senti que estava “acompanhadíssimo” para o meu casamento. Por isso a ausência de nervosismo. Tinha me preparado 28 anos para aquele SIM ao Amor, então era impensável qualquer tipo de temor.

Passados quatro meses, completados hoje, a certeza de que esse é o meu caminho é sempre maior.  Felicidade grande, fruto de um amor construído e preservado com minha amada esposa. Uma escola de amor à diferença que enriquece.

Contudo, a maior descoberta é perceber que a felicidade do casamento se constrói em maneira “tripla”: No relacionamento pessoal com Deus, no “amar-se reciprocamente” com a esposa e no abraçar à humanidade. Sem um desses pilares me parece impossível sentir-se verdadeiramente pleno.

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