Month: August 2012

Só mais um GENFEST?

Há um pouco mais de uma semana da décima edição do GENFEST, que prevê a participação de 12.500 jovens de mais de 100 países, parece necessário refletir sobre o significado deste evento, nas nossas vidas e no contexto social em que nos encontramos.

Em um mundo que clama por novos projetos e ideais capazes de sobreviver às crises financeira e de valores éticos, participar de um Genfest é com certeza a possibilidade de encontrar respostas coletivas e de vislumbrar “de corpo e alma” a grandeza de um Ideal aderido por milhares de jovens, de diferentes culturas, que acreditam que um mundo fraterno é possível.

Porém não basta festejar o mundo unido, é preciso construí-lo com as próprias vidas.

Genocídio na Síria, epidemia de Ebola na Etiópia, chacina do narcotráfico mexicano, desemprego de 50% dos jovens na Espanha, corrupção crônica no Brasil são alguns exemplos alarmantes de um cenário social que afeta a vida de milhares de jovens de diferentes contextos.

Mas o que eu tenho a ver com isso? Muito.

Gozar de um bem estar social e espiritual pode servir de desculpa para a passividade, o comodismo. Fazer do ideal do Mundo Unido instrumemto de conforto psicologico, alimento de um romantismo utópico, não ajuda a difundir, tranformar em cultura, uma alternativa tão fundamental às questões contemporâneas.

A tal “Gen Revolution” precisa virar uma realidade cada vez mais “encarnada” na vida dos jovens presentes em Budapeste. O encanto com o evento precisa servir de combustivel para uma escolha radical, vitalícia, VOCACIONAL de viver a vida e usar os próprios talentos não só para realizar a própria felicidade, mas lutar por uma felicidade compartilhada.

O privilegio de viver essa experiência maravilhosa é grande, menor, porém, que a responsabilidade de transformá-la em algo que não se desfaça depois dos três dias de FESTA.

É importante ressaltar que na edição anterior do Genfest, no ano 2000, os jovens presentes eram 25.000, o dobro do previsto para este ano, mostrando também o quanto a adesão a um Ideal tão exigente é cada vez mais desafiadora.

Este será o primeiro Genfest sem a presença física de Chiara Lubich o que parece evidenciar um “sinal dos tempos” onde a responsabilidade em construir um mundo mais unido está fundamentalmente nas mãos daqueles que acreditam.

Se cada participante do Genfest conseguir pensar no como, pessoalmente, poderia trabalhar para fazer do Mundo Unido uma pequena realidade local, as pequenas pontes de fraternidade serão (continuarão sendo) construídas e poderão, talvez, chegarem à uma dimensão cada vez mais universal.

“Não se acontentem com migalhas, vocês têm apenas uma vida, sonhem grande. Não se acontentem com as pequenas alegrias, busquem a plenitude da alegria.” (Chiara Lubich, GENFEST, 2000)

O BEM da morte

Nem uma semana de Brasil completada e já pude me encontrar com o mistério da morte.

Além do vazio interior por não ter participado da experiência dolorosa de perder, pouco a pouco, um ente querido e da incapacidade de comunicar palavras que suprimissem a perda, pude, pela primeira vez, vislumbrar o BEM da morte.

Devaneios a respeito do significado de uma vocação têm me feito pensar nos SIM que damos cotidianamente e que produzem frutos positivos e negativos para a humanidade.

Olhando o corpo do meu grande amigo, exemplo de pai, marido, cidadão, percebi o quanto as respostas às nossas vocações[1] têm influencia direta na vida das pessoas que encontramos.

Acredito ser pouco discutível o fato de que estamos interligados em profundas relações que nos condicionam a uma vida melhor ou pior, a uma felicidade maior ou menor, a um BEM maior ou menor.

Um jovem que decide ser médico por vocação irá se desenvolver potencialmente, criar novos tratamentos, vacinas, que trarão benefícios à toda humanidade. Um piloto de avião com o mesmo desejo procurará realizar bem seus treinamentos conduzindo com segurança os deslocamentos de vidas. Um casal que decide estar juntos para sempre, superar as adversidades da vida, não somente porque estão apaixonados, mas pensando no projeto social que existe por trás de uma família, edifica um suporte eficaz para as gerações posteriores.

Os exemplos citados de “Sim” vocacionais para as diferentes dimensões da vida, produzem um efeito direto na vida de outras pessoas e da sociedade como um todo.

Tenho identificado uma crescente, e preocupante, banalização do significado de vocação. Vejo que o termo é usado somente em âmbito religioso, diretamente relacionado às pessoas consagradas, mas qualquer ser humano precisa descobrir qual é a própria vocação, o motivo pelo qual ele é chamado a viver e como deve buscar a fundamental felicidade pessoal afim de que ela possa enriquecer não só a própria vida, mas a sociedade como um todo.

O BEM que encontrei com a morte do meu grande amigo foi perceber que os resultados desses SIM às nossas vocações ficam, independente da nossa presença corporal nesse mundo.

Vocação, vida, relação… termos que professam uma mesma realidade que nasce da resposta (e da fidelidade) que procuramos dar à nossa passagem neste mundo e que o transforma, para o BEM ou para o “menos bem”.


[1] Vocações no plural porque não acredito que um ser humano é definido e definível por uma única dimensão, mas que deve responder a um cômpito específico em diversos âmbitos da própria vida: espiritual, profissional e etc.

São Paulo

São Paulo de infinitas riquezas

De também misérias, tristezas

Metrópole, motor do Brasil

Pátria que me pariu

Caos da utopia da ordem

Daqueles que querem, mas jamais podem

Desarmonia visual, cotidiana sobrevivência

Paradoxo que une pressa e paciência.

Em suas calçadas, amostra da desigualdade

Agora preciso reconquistar-me à cidade

Voltar para casa. Tudo o que eu queria

Ritmo, poluição, lágrimas, poesia.

[vidaloka] Fui seguir meu coração… deu no que deu.

Em 2009 uma força biarticulada me impulsionou a deixar tudo e me aventurar no Velho Continente.

A admirável potência dessa “força” exalta a essência daquilo que sempre busquei pessoalmente. Ir embora, deixar família, amigos, cultura, só por um motivo: ser quem acho que eu devo ser.

O percurso intelectual, profissional, acadêmico, exigia que eu fosse embora. Pedia que eu descobrisse o paradigma trinitário, para propô-lo ao mundo da comunicação baseado (quase sempre) em uma dialética de princípios comerciais, ausente de ética, do Outro.

Contudo foi o coração que me deu a certeza de que tudo valeria à pena. No outro lado do Atlântico estava àquela que desejei por uma vida. Muitos caminhos, tantas vezes tortuosos, difíceis, me levaram à minha amada Flavia.

De 2004 à 2012 passaram-se oito anos e daquele primeiro encontro até o nosso aguardado 22 de dezembro muita coisa está sendo vivida, sofrida, buscada. E se chegamos aqui, juntos, profundamente felizes, é porque seguimos nossos corações.

Contudo, me perdoem os Leigos, meu coração é movido pelo Motor Imóvel. Força que já Aristóteles intuía e que nos faz arriscar, nos encoraja a perder todo tipo de segurança material, humana, para conquistar grandes coisas.

Meu Deus, trinitário, tridimensional, relacional. Princípio por quem sempre vivi, acreditei e aonde descubro o significado de cada coisa, a resposta para cada passo que devo dar, momento por momento.

Sábado, 11 de agosto, conclui-se uma outra fase da minha vida. Depois de um pouco mais de 2 anos na Europa volto pro Brasil.

Feliz por tudo que conquistei com tanto sacrifício, procurando não olhar para trás lamentando o que deixo, mas desejando o próximo passo, que se aproxima com alegria e serenidade.

Imensa a gratidão pelas pessoas que conheci e grande a felicidade pelo reencontro com aquelas que, há dois anos, me despedi.

Seguindo meu coração encontrei uma Felicidade verdadeira, exigente, profunda. Escutando o meu Deus encontrei a mulher com quem sonho viver novas (e grandes) aventuras, agora na minha pátria, minha casa.

Não tenho dúvidas que valeu a pena.

Segui meu coração… deu no que deu.

O “gaúchismo” de Rafinha Bastos

Assistindo ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que esta semana entrevistou o humorista gaúcho Rafinha Bastos, eu pude perceber o porquê nutria uma certa dificuldade em aceitar alguns tipos de comportamento advindo da cultura gaúcha.

Tenho muitos amigos gaúchos, pessoas que sinto um carinho e uma grande admiração, tanto pelo caráter, quanto pelo orgulho que exprimem por fazerem parte de uma região tão rica em natureza e cultura.

Contudo sempre acreditei que o orgulho do povo do Rio Grande do Sul, traduzido em um bairrismo tantas vezes desmedido, era quase sempre sinônimo de arrogância e de um comportamento separatista, que não quer partilhar o bom que tem e tenta diminuir aqueles que são diferentes.

Assistindo ao gaúcho Rafinha Bastos, excelente humorista que ficou conhecido nacionalmente pelo trabalho no CQC e também por ter feito uma piada “sem graça” sobre uma cantora brasileira, eu pude perceber as grandes distâncias culturais que ainda existem no Brasil.

O caráter, o jeito de ser e, principalmente, o humor feito no extremo sul do país é completamente diferente do escárnio nordestino, como por exemplo o de Renato Aragão aonde o conteúdo do humor é amenizado pelo caráter brincalhão do povo nordestino e, por isso, raramente levado ao pé da letra.

Rafinha Bastos não é nordestino, mas 100% gaúcho. Tem um humor menos “infantil”, mais irônico, escrachado, pouco refinado, extremamente direto. Características que encontrei em praticamente todo cidadão gaúcho que conheci.

Apesar da admiração pelo Roda Viva, fiquei um pouco decepcionado com o programa pelo pouco interesse dos entrevistados em relação à pessoa Rafinha, com sua família, cultura. Dessa forma a discussão permaneceu nos generalismos comuns nas entrevistas de pessoas ditas públicas.

Quando perguntado se ele se acha arrogante, o humorista gaúcho negou e acrescentou “não… eu gosto de discussões. Eu sou gaúcho. De onde eu vim o meu povo é assim. Um povo que combate, briga e não aceita”. Mas a pergunta seguinte não aprofundou o assunto, ao meu ver, extremamente necessário para entender o humorista.

Assistindo ao programa me dei conta da necessidade de conhecer melhor as diferentes culturas que enriquecem o Brasil para que elas não sejam motivos de divisão e preconceito (internos ou externos).

Por outro lado, não concordo com a postura “independente” defendida por Rafinha Bastos, justificada pelo fato de ele ser humorista. Como comunicador (de massas, porque trabalha na televisão) ele precisa também assumir a responsabilidade pelo que diz e, sobretudo, aceitar o fato de não sendo compreendido (muitas vezes por culpa dele). É importante que ele conduza o público no entendimento e apreço ao seu gaúchismo, que nada tem a ver com arrogância ou separatismo, mas é um jeito diferente de fazer rir.

 

 

 

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