Há doze anos escrevi uma das minhas primeiras reflexões pessoais sobre relacionamentos “a dois”. “Teoria das Exigências” marcou um momento em que, pela primeira vez, me via disposto e ansioso em viver essa experiência, mas de forma verdadeira.
Se naquele momento cultural eu já acenava para a dificuldade de construir um relacionamento verdadeiro entre dois jovens, a tendência ao descompromisso, hoje, infelizmente vejo que as coisas pioraram muito nesse aspecto.
Uma minha explicação seria por conta da virtualização da vida, que acabou sufocando as etapas naturais de desenvolvimento dos jovens de hoje. Passa-se mais tempo no mundo da “simulação online” do que no “offline”, acreditando que, por manifestar “pseudo-sensações”, pode ser considerado verdadeiro.
Nessa tentativa de nos realizarmos como pessoas, porque somos seres-relação, ainda nos enganamos acreditando que é possível sermos felizes ignorando a “ferida do outro”, que sendo diferente de mim, na relação “ao vivo”, fatalmente me machuca (mesmo sem intenção).
Passada mais de uma década e algumas experiências importantes na minha vida percebo que, se tivesse que reescrever as “exigências” atuais para construir um relacionamento com uma garota evidenciaria três aspectos essenciais: estilo de vida socioeconômico, opção religiosa e cultura familiar.
As considerações do texto de 1999 acenavam principalmente para o início de um relacionamento (escolha, prioridades, compatibilidades) que, após um ou dois anos começam a serem colocadas em questão. O processo exigente de discernimento transforma o “sentir”, quando existe um projeto futuro, em “pensar” se a relação pode prosperar ou não tem as bases necessárias para isso.
É nesse momento que essa «tríade» entra em jogo, que nem sempre é percebida quando o “sentir” ainda é preponderante em nós.
O estilo de vida socioeconômico age diretamente nas escolhas cotidianas. No consumo de coisas simples como “o que comer”, a “onde morar”. Diferenças antagônicas nesse sentido não podem ser ignoradas, pois em um momento ou outro colocaram o casal em um confronto aonde a “perda” de um ou de outro vai pesar.
A opção religiosa ou “não religiosa” também precisa estar em equilíbrio. Aqui parece importante ao menos o respeito verdadeiro pela escolha pessoal de um ou de outro e, se se existe um projeto futuro, um discernimento claro sobre a educação e o modo como os valores da família serão passado aos filhos.
Por fim a cultura familiar. Dinâmica que tem, como os outros dois aspectos, ação direta da sociedade onde ela está inserida, mas que tem uma “autonomia” e “especificidade” que pode muitas vezes contrastar com o ambiente externo.
A família é a verdadeira fonte cultural, social e religiosa de um individuo. É a primeira comunidade política, como afirma Aristóteles. O desprezo ou a “não sintonia” com a família do outro é certamente fonte de problemas pra toda a vida de um casal. Pois, como aponta a sabedoria popular, não se casa só com a/o esposa/o, mas com toda a família dela/e.
Com esses três aspectos primordiais equilibrados, existem depois as outras dificuldades secundarias (gostos gerais diferentes, antipatia com amizades e etc) que também precisam encontrar equilíbrio com a dinâmica do casal. Trabalho (e aventura) pra toda a vida.
Ditas todas essas coisas é compreensível a afirmação inicial sobre as inúmeras dificuldades de se construir um relacionamento. Mas, contraditoriamente, direi de que não se pode viver pensando nelas.
A ação mais construtiva do ser humano é amar. É no amor que os laços se formam, os desafios são superados e se conhece profundamente o outro. Conhecendo nos sentimos seguros.
Porém o amor não é estático. Não se pode amar uma pessoa acreditando que ela vai permanecer sempre como antes. Amar, ser amado e o “amante” mudam sempre e por este motivo são ambos, misteriosos e infinitos.
Quanto mais a gente se exercita “no amar”, mais descobre o “novo” do outro (e do amor) e percebe que ele/a, mesmo mudando, continua maravilhoso/a, irresistível.