É difícil resumir em poucas frases a intensa vida que tenho maravilhosamente o privilégio de “jogar”.
Pude saborear nos últimos dez dias uma experiência não só inédita mas simbolicamente decisiva para os passos que já sentia o desejo de dar, porém que exigia uma compreensão inteligível critica e não uma postura de confiança quase dogmática (sem querer banalizar a importância da fé no processo hermenêutico [de compreensão] pessoal).
Mas enfim, na semana passada participei com Flavia do encontro de namorados organizado pelo Movimento Famílias Novas, sub-estrutura do Movimento dos Focolares que se ocupa de formação no âmbito familiar.
Talvez, por curiosidade, alguém perguntaria a origem desse desejo tão grande de viver algo desse tipo. Para quê um encontro de namorados! Porém, para explicar teria que expor todos os “impulsos” interiores e o sonho de não só ter alguém “pra conviver”, mas “pra construir uma vida junto”.
Esse desejo foi muitas vezes “bloqueado” por pessoas que acredito “bem intencionadas” pensavam que o melhor para mim era, ou me contentar com a inferioridade do matrimônio e por isso seguir uma vida de consagração ou não perder tempo com “beatices” e simplesmente aproveitar a vida “enquanto dure o amor”.
Claro que o fato de ser cristão, acreditar que as relações nascem de um “arqué” [princípio] transcendente e me sentir pronto para “dar a vida” para fazer com que outras pessoas experimentem o amor materno/paterno di Dio, talvez servissem de motivo para tais “incentivos”, mas internamente nenhum desses discursos conseguiu me satisfazer, sempre quis algo mais “humano”, “encarnado”, sempre quis construir uma Família (com F maiúsculo).
Durante esse encontro, pela primeira vez na minha (não tão) jovem vida, recebi uma resposta satisfatória aos meus anseios. Claro que sabia e sentia que ela existia, mas não havia ninguém até o momento capaz de mostrar a beleza, a radicalidade e o imenso desafio que nasce de uma vida “a dois”, baseada pela antecedente escolha totalitária de Deus.
Encontrar a minha vocação nas palavras de Chiara Lubich e sentir o coração “queimar” de alegria, experimentando uma enorme paz e também o temor da grandeza desse chamado, foi certamente o momento mais especial desde que cheguei na Europa.
A grande descoberta, depois, foi entender que a vocação do “casado” não nasce sozinha. Ninguém é simplesmente chamado a casar, mas casar COM ALGUÉM, o que implica não só uma anterior vontade individual, mas um passo posterior que nasce do amor recíproco, que depois se realiza plenamente “no Sim do altar”.
Porém, o “fantástico” do encontro de namorados foi perceber que aquele SIM é só o começo de uma aventura misteriosa, maravilhosa, feita de alegrias e também de dores, crises, desafios, crescimento, mas existe por acaso ressurreição sem morte? Alegria sem dor? Verdade sem contradição?
É interessante pensar que talvez grande parte dos meus amigos não relacionem felicidade com sofrimento e decisão com vocação. Nas escolhas simples, mas sobretudo nas complexas, profundas.
Depois desse encontro “bello” é preciso VIVER. Com Flavia decidimos continuar na busca e no crescimento recíproco da vida em comunhão, como preparação aos passos concretos que queremos dar no próximo ano. O interessante é que logo depois estivemos juntos por mais quatro dias para comemorar o meu aniversário juntos e ali pudemos já experimentar de maneira intensa tanto a alegria, como o desafio que é a vida construída juntos.
Felicidade, depois, é justamente ser fiel ao sentimento profundo que nos leva a busca da Verdade, as vezes quem está ao nosso lado é Luz, as vezes sombra, mas tudo concorre na “travessia do túnel”.