“No nosso mundo ocidental”. “Nós, ocidentais”. “O ocidente”.
Há algum tempo sinto o estômago embrulhar quando vejo já “substantivado” esse adjetivo que cada vez mais identifico como preciosismo* intelectual.
Deixando de lado a classificação com relação as origens substancialmente culturais, observo pessoalmente que a Europa e os Estados Unidos debatem as questões mundiais auto denominando-se “ocidentais”, com um aparente desprezo pelos outros percursos sócio-culturais.
O aspecto demagógico e paradoxal dessa postura “superior” se desenha quando, analisando esse “ocidente”, si constata que a sua racionalidade científica, que quantificou as relações do homem com o mundo, foi tão “absolutizada” ao ponto de extinguir-se, de não ser capaz de colocar respostas que emancipam qualitativamente, no sentido profundo do ser “pessoa”, a vida do homem contemporâneo.
Mas o que considero o mau maior dos auto-determinados “ocidentais” é a crença de que as respostas para o mundo, no âmbito sócio – econômico – político, não teriam outra gênese, outro berço seguro que proporcionasse o desenvolvimento do bem estar social.
Bem estar ok… talvez americanos e europeus são aqueles que economicamente desfrutam do bem estar que o capitalismo produz. Não é uma constatação marxista, é um dado objetivo. Segundo as Nações Unidas quase 90% da riqueza do mundo está sob o controle de moradores da América do Norte, Europa e dos países de renda elevada na região Ásia-Pacífico, como o Japão e a Austrália. Mas se o argumento trata de “bem comum” tanto a economia, quanto a política desses países têm aplicações “subdesenvolvidas”. Toda a riqueza concentrada, o bem estar desses países, não levam ao bem social almejado. O mapa das taxas de suicídio da Organização Mundial de Saúde mostra que esse é mais praticado justamente nos locais onde está a riqueza mundial.
A objetividade desses dados me faz justamente refletir sobre essa postura “ocidental” [para continuar jogando com o termine] de querer dar todas as respostas às questões mundiais. Esse paternalismo colonizador ainda hoje é presente nas reflexões e na relação com as “colônias de pensamento”.
Criticar a democracia latino-americana, a falta de escrúpulos (e a demência – opinião minha) de Hugo Chavez não parece ter os mesmos “pesos e medidas” no confronto com o approach ocidental da política de Berlusconi. Incapaz é a mentalidade latino-americana, extra comunitária. Capaz é o percurso ocidental, originário, que culmina no grande e invejável político italiano Silvio Berlusconi.
Pensar política, economia… pensar a sociedade hoje exige sim respeito as origens e aos avanços que vieram do Ocidente 1.0, e também do oriente e das culturas tribais africanas e indígenas que estão na raiz da sociedade latino-americana. Mas disso, a acreditar que é exclusivamente a sociedade dita “ocidental” a poder dar todos os caminhos para o desenvolvimento do bem comum do planeta é minimizar a problemática.
Tenho pensado muito nisso e mesmo sem terminar essa reflexão já fui chamado de marxista. Mas não sou. Acredito que uma premissa necessária seja o respeito e principalmente a “escuta” das compreensões e impostações particulares que o mundo “fora do ocidente” faz do pensamento político – econômico – social contemporâneo e também ao seu amadurecimento com problemáticas específicas, que muitas vezes nos distanciam da realidade “ocidental”. (O pensamento democrático latino-americano, por exemplo, há uma experiência histórica quase irrisória em relação àquela secular européia).
Vejo que grande parte dos intelectuais e pensadores que se confrontam sobre esse tema nem sempre esperam que seus interlocutores terminem a frase de indagação e já aparecem com respostas prontas, analiticamente perfeitas, mas pouco construtivas. (não vejo muita iniciativa de produção de reflexões. Meus colegas de profissão estão mais acostumados a criticar – o que é relativamente mais fácil).
Mas voltando ao tema… Não penso que seja desprezível estudar Feudalismo, Revolução Industrial, Francesa ou Hobbes, Locke. Claro que é importante. Mas sinto um pouco de falta de compreensão de como a influência ocidental ajudou a construir a nossa sociedade, brasileira, latino-americana: o nosso ocidente.
Decidi escrevi tudo isso porque, no final das contas, me sinto responsável na busca de caminhos que levem a nossa sociedade – local e globalmente a, não exclusivamente ao bem estar econômico, político, mas ao bem comum, ao princípio filosófico da Felicidade.
*s.m. Requinte no falar ou no escrever.