Sempre fui tratado com uma certa depreciação por parte de amigos por ser jornalista. A ignorância faz acreditar que “qualquer um sabe escrever” e pior, permite que muita gente realmente pense que o trabalho jornalístico se resume exclusivamente a esse “escrever”.
Dessa forma a imprensa mundial é cheia de pseudo-comunicadores que simplesmente “escrevem”, mas pouco pensam, se preparam, refletem e em nada procuram desenvolver o próprio ofício de forma ética sabendo que, antes de tudo, o profissional da comunicação é um prestador de serviços, primeiramente, à própria comunidade e a conseqüentemente à sociedade como um todo.
Contudo, ser jornalista é se deparar com experiências novas, desafios inesperados e poder vivenciá-los é o que me faz ser tão apaixonado pela minha profissão.
Três dias atrás, em uma conversa informal, fui convidado para participar de uma jornada no castelo de Caux, maravilhosa construção da pequena cidade que está a sudoeste da Suíça e abriga o centro de conferências da organização “Iniciativa e mudança”, que desenvolve diversos trabalhos em prol de um mundo melhor em diversos países.
A ocasião especial era a participação da atual presidente do Movimento dos Focolares (www.focolare.org), Maria Voce. Convidada a apresentar um painel sobre a Economia de Comunhão (EdC) (www.edc-online.org), iniciativa no campo da Economia dos Focolares, Maria Voce foi uma das palestrantes da semana intitulada “Confiança e Integridade na economia global”.
O trabalho desenvolvido por “Iniciativa e mudança” é muito interessante e vale a pena conhecer (www.caux.iofc.org) e as semelhanças das iniciativas realizadas no campo econômico foram aquilo que motivou a organização a convidar Voce.
O que eu não esperava é que, após a conversa informal citada acima, estaria “pautado” a escrever um artigo sobre a conferência e já agendado uma entrevista com Martin Robra, teólogo e um dos diretores do “ World Council of Churches”, outra com o representante do movimento budista, Rissho Kosei-kai, Naoki Taketani, e a última com Maria Voce.
Durante a sua intervenção, a presidente dos Focolares falou sobre a experiência da Economia de Comunhão, enfatizando a necessidade de uma “Cultura do Dar” em que somente a partilha entre ricos e pobres pode levar a sociedade a um desenvolvimento justo. Citando a falecida fundadora, Chiara Lubich, Voce apontou que os homens foram criados “como dom uns para os outros” e que é preciso exercitar-se quotidianamente para olhar colegas de trabalho ou concorrentes a partir da perspectiva da fraternidade.
Terminada a palestra, logo atrás de mim estava o Sr. Taketani e imediatamente pude perguntar (in english) a sua opinião sobre o que Maria Voce havia apenas dito. “Nós da Rissho Kosei-kai nos sentimos estimulados e responsáveis por esse projeto” afirmou e recebi um “Absolutamente não” quando perguntei se o fato de ele ser budista o distanciava da proposta da EdC.
Logo em seguida algumas fotos do Sr. Robra e sua esposa que saudavam Maria Voce e quando eles se despediram pude perguntá-lo (also in english) sobre o que o World Council of Churches poderia ajudar nesse projeto. “Fazemos parte deles”, recebi como resposta.
Duas horas mais tarde, encontrei Maria Voce pelos corredores do castelo de Caux e fui saudado com um “Ah! É você que é o Valter!”. Contente me dirigi à sala em que outra jovem jornalista estava pronta para entrevistá-la.
Após esperar 15 minutos, me dirigi à Maria Voce para perguntar aquilo que havia colhido e preparado. “Como falar de Cultura do Dar, recuperar a confiança, com alguém que não faz ou não valoriza qualquer tipo de caminhada religiosa ou humanista, mas está imerso na cultura do sucesso, do lucro, como um diretor de uma multinacional, por exemplo?” pergunto, crente de que era uma excelente questão. “Quem disse que devemos falar de cultura do dar? Nada disso! Não devemos falar! Com essas pessoas, nessas ocasiões, é preciso testemunhar essa nova cultura, com a nossa vida, até que elas possam entender”, respondeu-me Maria Voce.
Depois de vivenciar meus 15 minutos com Voce percebi o quanto é maravilhoso ser jornalista. A oportunidade de encontrar e construir um pequeno relacionamento com essas “personalidades” me ajuda a colher a humanidade que existe nelas e entender o verdadeiro sentido da palavra “graça”.
Começo agora a escrever o artigo sobre o que foi falado na conferência e sobre a necessidade de “unir forças” para construir projetos, ações, juntos, para potencializá-los.
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