Post original: http://netonebr.wordpress.com/2010/06/14/comunicar-amanha/
“Quantos de vocês estão preocupados com o futuro do jornalismo? E com os futuros jornalistas?”
Essas foram as perguntas que abriram o meu discurso, a experiência que tive o privilégio de apresentar aos participantes do Seminário Internacional “Prove di Dialogo”.
A Europa está em crise.
Essa constatação é perceptível simplesmente se procuramos acompanhar o noticíario de algum telejornal do país. Porém, o que não é tão fácil de assimilar estando “fora” dessa realidade particular, específica, é o reflexo que essa crise sócio-política vem causando na Itália de Berlusconi.
Mas qual a relação entre as perguntas provocativas feitas no início da minha experiência com a situação sócio-política da Itália?
Bom… nessas duas últimas semanas vividas em solo europeu encontrei uma realidade bem diferente daquela em que me defrontei 5 anos atrás.
Especificamente, na Itália, os problemas econômicos e o mau estar político vem servido de alerta por grande parte da imprensa local para o perigo iminente de uma ditadura.
Semana passada o Senado italiano aprovou uma lei que restringe a atividade da imprensa, proibindo grampos telefônicos ou a revelação de material audiovisual que apontem supostos crimes, até que o processo jurídico seja concluído, além de outros pormenores que consideram a lei uma censura explícita à atividade dos jornalistas e um escandaloso favorecimento as ações criminosas da Máfia.
Estando em meio a essa quente discussão política, olho ao meu redor e me pergunto: aonde estão os jovens neste debate? Qual a participação política tanto nos protestos, quanto na produção de informação, que mostre a importância do protagonismo deles nesse momento particular?
Não se pode “tentar” o diálogo sem que as novas (e futuras) gerações sejam ouvidas, envolvidas no debate, mas é necessário que esses jovens se esforcem para fazer ecoar a própria voz.
A sensibilidade em direção ao desenvolvimento social parece bem mais viva na América Latina, lugar em que a miséria e a desigualdade é bem mais VISUAL. Na Europa, o consumismo e o bem estar que “esconde” os problemas sociais, desfoca o olhar em relação as diferenças e inibe o crescimento da consciência que leve à uma ativa participação política.
Por isso, efetivamente, é necessário um intercâmbio cultural entre o aspecto reflexivo do jeito “europeu” de comunicar e o modo “latino-americano” de produzir informação, participar do debate público, que vai de encontro com a demanda (urgente) de uma ação efetiva que caminhe em direção ao bem estar comum.
Pessoalmente, temo que a vida urbana no Brasil, excessivamente ocidentalizada (no sentido de incorporação cultural do consumismo capitalista), sobretudo no que diz respeito aos “valores”, nos leve como sociedade e no modo de produzir informação, aos mesmos tristes rumos em que se encontra a Itália atualmente.