Month: April 2010

900 POST: Crime e pecado: Quem julga o que?

Um dos grandes avanços da legislação de um Estado é a Constituição¹. Esse conjunto de regras que, aplicadas, regem o comportamento dos cidadãos de um país tem diretrizes claras, mas, na pratica nem sempre é respeitado, o que não exclui um cidadão do seu estado primordial de membro de uma comunidade. A legislação prevê uma “retirada” desse individuo para reabilitá-lo ao convívio naquela sociedade, caso haja desrespeito as regras previstas.

Para os cristãos, o “livro de regras” que rege o próprio comportamento é chamado Evangelho. Ali estão mandamentos, relatos, parábolas, bem-aventuranças que explicitam as diretrizes para que um indivíduo seja reconhecido como “discípulo de cristo”. Contudo, diferente das leis estatais, a não “obediência” as regras do Evangelho não prevêem um afastamento comunitário. O erro cometido pode ser perdoado por meio de procedimentos específicos: arrependimento e confissão.

Na lei “do Estado” o escopo primordial é a ordem, que é submetida à obediência das leis, enquanto na lei “cristã” o objetivo é o homem e a sua felicidade, sendo consciente a sua limitação intrínseca de espelhar perfeitamente o regimento estabelecido no Evangelho. Por isso, enquanto na primeira situação o erro é suscetível ao julgamento, no segundo caso o julgamento não faz parte do seu regimento interno.

Essa premissa me faz ver claramente o que pode ser gerido pelo Estado e o que é posição religiosa, diferenças que a mídia raramente faz questão de entender e respeitar.

Venho acompanhando o caso escandaloso, vergonhoso, humilhante dos padres pedófilos, especificamente o caso de Arapiraca.

Pessoalmente me senti ferido, humilhado, por ser cristão e principalmente porque procuro viver da melhor forma possível às “regras” que essa “denominação” exige aos seus seguidores.

É estarrecedor perceber que um líder comunitário religioso se submete conscientemente a praticar não só um crime contra a sociedade, mas um desrespeito a toda a comunidade cristã que busca salvaguardar valores que a sociedade vai intensamente desprezando sem se dar conta das graves conseqüências que isso traz para a mesma. Mas, o que mais me ofendeu foi a cobertura sensacionalista e baixa feita pelo SBT no programa Conexão Repórter onde ficou clara a intenção do especial: destruir a imagem da Igreja e não simplesmente apontar e polemizar  um caso grave de crime contra a sociedade.

O aspecto moral – religioso que muitos insistem em usar como argumentação para atacar a Igreja não pode ser tratado de maneira tão superficial. Pois “crucificam”-se os culpados, mas não se reflete a causa, as motivações, o porquê.

De que adianta um órgão social, como a imprensa, que tem o dever de apresentar um “fato social” como esse grave episódio, se ele não nos impulsiona a buscar soluções e questionamentos que possam resolver ou ajudar na resolução do problema??

NADA!!! Isso é desserviço.

Crimes como pedofilia precisam ser investigados e os autores PUNIDOS! Não interessa se é padre, advogado, jornalista, professor. Essas regras estão sob tutela do Estado. Agora, usar de um fato social para levantar questionamentos que dizem respeito à Igreja, isso não é admissível. Não diz respeito a concepções e conclusões estritamente racionais.

A religiosidade não se baseia em regras como a de uma constituição. Na relação com a fé, existem palavras como misericórdia, perdão, arrependimento, que separam claramente pecador e pecado. O erro não é questionável, é um fato, mas o pecador tem sempre como ser perdoado. Afinal de contas, quem nunca errou? Quem nunca ofendeu? Quem está isento da necessidade de perdão e da misericórdia, primeiro das pessoas e, para quem acredita, de DEUS?

“Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire a pedra contra ela. (João 8:7-11). Esse desafio foi feito por Jesus no caso da mulher adúltera. Era hábito naquele tempo apedrejar a mulher que fosse pega em adultério – o que naquela época era um crime MORAL grave, e que hoje é já tratado como “algo normal”. Ele chamou a todos para uma reflexão, queria que eles refletissem antes de condenar os outros. Esse é um comportamento normal do ser humano, ver o cisco no olho dos outros – sem ver o pedaço de pau no seu olho.

Isso para separar o pecado do crime. O erro moral pode ser julgado pela lei? Quem é que julga? Melhor, quem é capacitado o suficiente para julgá-lo? Agora, crimes como homicídio e mesmo a pedofilia são problemas sociais e por isso devem ter observação e punição nessa esfera.

Mas aqui ficam alguns questionamentos:

  • Será que socialmente não estamos criando cada vez mais condições para que casos como esses se ampliem?
  • Não seria demagogia demais uma mídia que “erotiza” crianças e usa da sexualidade como principal motor de audiência, faça a defesa da busca de uma verdade brutal, de que talvez ela seja a principal causa?
  • É moralmente mais chocante se dar conta de um padre, com mais de oitenta anos, mais de cinqüenta de celibato, estar envolvido em um escândalo como esse. Mas será que as pessoas se dão conta de que a grande maioria dos casos de pedofilia acontece em famílias, geralmente por pais, ou pessoas ligadas à família?

O mais importante aqui é não olhar casos específicos para atacar uma comunidade, como a cristã, que busca seguir as “regras” e tem tantos exemplos bons, de trabalho humanitário, de ajuda, mais que tudo… de busca!

Quando transferimos a problemática para uma família, talvez fica mais fácil analisar. Ás vezes sob um mesmo teto todos são trabalhadores, procuram se amar, se querem bem, mas um dos membros da família, por liberdade e escolha resolve optar por “outros caminhos”. Não quer trabalhar, se envolve com drogas, o que gera dor, tristeza, vergonha, sobretudo perante “os outros”. Mas, mesmo diante de tudo isso, qual é a atitude que a família geralmente tem em relação a essa pessoa? De descaso, expulsão? Não. Existindo amor, todos procuram ajudar até que o problema seja resolvido. É assim que a comunidade cristã procura assumir seus problemas. Há sofrimento, há vergonha, mas, acima de tudo, deve haver amor e coragem para enfrentar um problema grave e real.

Acho interessante como a sociedade laica lutou em prol de um Estado que se dissociasse da religião, mas que agora, insistentemente, querem influenciar “o outro lado”, em uma esfera que não lhe diz respeito.

Isso não é justificativa para o crime dos padres. É só mostrar claramente a diferença entre crime e pecado. Ajuda a criar consciência diante das manipulações midiáticas que misturam o perdão religioso e a punição prevista por meio de procedimentos legais, na nossa Constituição.

Texto de apoio:

Carlos Alberto di Franco: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100405/not_imp533751,0.php

Dom Odilo Scherer: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100410/not_imp536428,0.php

29 dias no país do Tsunami – Parte 27: Deixando Nias

 

Nós, crianças!

Enfim, depois de dez dias maravilhosos na ilha de Nias, chegou a hora de ir embora.

Durante os dias vividos aqui eu pude sentir realmente o amor de cada habitante desse lugar. Encontramos um povo sorridente mesmo tendo sofrido muito por conta das duas terríveis catástrofes naturais que eles atingiram a ilha.

Tinha na mente o preconceito de que não era um povo trabalhador. Ainda está na minha mente a imagem daqueles muitos jovens sentados no “meio fio” das suas casas, à toa… aquilo me fez pensar: Porque eles não trabalham para ter uma vida melhor?

_ O que é melhor para você? Eles têm família, têm casa, têm comida, o que precisam mais? – foi a resposta de Ponty e percebi que realmente o nosso conceito ocidental de “vida melhor” é a maior das ilusões. Ter não tem nenhuma relação com SER!

Eles são um povo feliz com aquilo que têm e por isso não procuram produzir para ter sempre mais. Questão de mentalidade.

 

Medo de altura…

Um momento especial foi poder conhecer a vila onde mora a família de Ponty. Claro que já o via como um grande irmão, mas ir até lá e viver com ele aquelas recordações, conhecer a sua família, as pessoas que o viram crescer, nos ligou ainda mais.

 

Para mim é sempre difícil ir embora. É a velha historia da mulher que está apegada a bolsa que há nas mãos e não quer deixá-la para pegar a grande mala que está logo adiante, com medo do período que vai estar “de mãos vazias”.

Entendo que me ligo às pessoas e as situações quando deixo o meu EU crescer na frente de Deus, porém não quero deixar de me esforçar.

Quem são os nossos modelos?

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“_Boa noite meus HERÓIS!!”

Era assim que o renomado jornalista da Rede Globo, Pedro Bial, começava a dialogar, todas as noites, com os participantes de um dos programas mais vistos na televisão brasileira em 2009. A décima edição do Big Brother colocou relevo, entre tantas perguntas, uma em especial:

Quem são os modelos que a sociedade e a mídia trazem para uma geração de jovens da qual faço parte?

Assisti quase completamente a última edição do “show da vida real”, para analisar criticamente e poder dizer o que a experiência gerou em mim e, devo admitir, fui seduzido. Sem perceber estava discutindo, lendo artigos na internet sobre o programa, interessei-me pelos participantes, principalmente para as mulheres bonitas, sem nem mesmo me perguntar se estava fazendo a coisa certa.

Mas, na sua fase final, as descaradas manipulações de edição e o baixo nível moral do programa, me ajudaram a voltar ao “estado crítico” e entender que realmente o Big Brother faz mais mal do que bem a minha geração.

A primeira coisa que ficou clara é que não são profissionais banais que produzem o programa. São pessoas muito capazes. O próprio Pedro Bial foi um jornalista muito gabaritado, cobriu a Guerra do Golfo, a queda do Muro de Berlim e no final, se vendeu a um “desserviço” que a Central de Jornalismo da Rede Globo, vem há 10 anos, fazendo para a população, confundindo ficção e realidade. (ou será que realmente alguém acredita que o que se vive dentro da “Nave Big Brother” é real?)

Mas, o que mais me chamou a atenção no programa foi na escolha dos participantes e no como eles se prestavam dentro da “casa”.

Uma “pseudo diversidade” caricata que, desta vez, colocou em situações depravadas homens, mulheres e homossexuais, institucionalizando os três “gêneros” e os subseqüentes comportamentos de maneira unilateral.

Expor na televisão que existe esse tipo de “harmonia entre gêneros” parece banalizar e pior, sentenciar uma discussão social que não quer ouvir “todos os lados”. Não se deve marginalizar o homossexual, isso nunca, mas se deve discutir profundamente o homossexualismo como modelo de felicidade, como projeto de vida, também no que diz respeito à saúde pública. Não gosto desta “pseudo tolerância” que o relativismo produz.

Acredito que nem mesmo os homossexuais gostaram de ser apresentados como modelo de depravação, de uma sexualidade animal, que nada tinha de bonito, natural… Voltamos à idade das cavernas?

Acho que posso resumir o meu pensamento com o comentário de minha irmã mais nova, sobre como o Big Brother apresentou seus “modelos de gênero”: “Conseguiram em um programa destruir toda a imagem da mulher, não tinha sequer uma decente“.

Pois bem, a televisão continua criando arquétipos que impulsionem ainda mais a adoção social do relativismo. “Enquanto não sei quem sou, sou bissexual, experimento um pouco de tudo, LIVRE e depois vejo e decido aquilo que me atrai mais”.

Contudo acredito que surge cada vez mais o espaço (e a adoção) do relativismo por conseqüência da “morte” dos modelos “padrão” de felicidade.

O amor paterno, materno, era o que moldava justamente o desejo de construir famílias (e pessoas) sadias e realizadas, externa e internamente. Agora o que dizer disso após casos como o da menina Isabella, em que o próprio pai foi capaz de arremessá-la do alto de um prédio? Além dos inúmeros casos de pais que espancam seus filhos, que nem mesmo estão presentes, em prol do bem-estar econômico ou que delegam às escolas a função de educar que lhes cabe. Isso sem mencionar o extremo do absurdo dos noticiados casos de pais pedófilos.

Falar em pedofilia é colocar em discussão outro modelo de felicidade (e moralidade) sepultado para a mídia: o sacerdócio. Padres pedófilos em diversas partes do mundo são condenados pela mídia, evidenciando o “pânico moral”, “conceito nascido nos anos 1970 para explicar como alguns problemas são objeto de uma “hiperconstrução social”. Os pânicos morais foram definidos como problemas socialmente construídos, caracterizados por uma amplificação sistemática dos dados reais, seja na exposição midiática, seja na discussão política”. (http://www.deuslovult.org/wp-content/uploads/2010/03/Padres-pedofilos-panico-moral.pdf)

A reportagem apresentada pelo meu colega, Daniel Fassa, sobre a comercialização sexual (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/folhatee/fm0504201001.htm) coloca em discussão a razão para a minha premissa: Se os pais estão cada vez mais distantes dos filhos, se a televisão vem constantemente institucionalizando a imoralidade e o relativismo como caminhos para descoberta da felicidade, se a mídia continua buscando desconstruir os poucos modelos concretos de felicidade, como a família, num pacto promiscuo com aglomerados comerciais que criou o “comercio de si mesmo”, para se  beneficiar economicamente das pessoas, quais modelos de Felicidade verdadeira nós jovens podemos ainda encontrar?

Queria fazer essas perguntas aos meus amigos, mas tentei primeiramente EU, responder a essa pergunta.

Para mim Felicidade é descobrir a capacidade de fazer feliz quem está ao meu lado. Reconheço-me ser humano, a medida que esse amor é sentido, transforma. O amigo da editora Klaus Brüschke Cidade Nova, um dia falando do meu blog Escrevo, logo existo” sugeriu a alteração deste para: Sou lido, logo a minha existência se cumpre…”, remetendo-se a Borges que diz que um livro só é livro quando é lido. Do contrário é um calhamaço de papel.

Transportando a mesma afirmação para a Felicidade é justamente nela que me apoio procuro meus exemplos, pessoas que abriram mão dos pseudo-modelos midiáticos (um trabalho que ganhe muito dinheiro, mas que exige “passar por cima das pessoas”, uma vida estável em uma casa grande, que se esquece das pessoas que sequer têm dignidade, uma vida promiscua que preenche só os desejos “da carne” e nos torna animais como quaisquer outros.) para tantas vezes “se sacrificarem” por quem está ao lado, abrirem mão do individualismo e assim descobrir uma Outra felicidade, que custa mais, mas que proporciona uma realização proporcional.

São esses os meus modelos, os meus heróis, mas heróis humanos! Expostos às mesmas ilusões projetadas pela mídia, mas que em vez de simplesmente absorverem esses “pseudo-modelos”, procuram, dentro de si, encontrarem verdades “que não passam”, mas que nem sempre vêm grátis.

A partir dessa compreensão passei a adotar a máxima que diz “o máximo de felicidade exige o máximo de sacrifício“. Mas se isso não é vivido, se não ousamos, ao menos, procurar fazer a experiência, de olhar criticamente para as “realidades” apresentadas, não passará de uma frase de efeito.

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