Recuperação |
Fonte: Dicionário Houaiss
Acepções
■ substantivo feminino
1 ato ou efeito de recuperar(-se); recobramento
1.1 reconquista da saúde, do bem-estar
Ex.: deixou o hospital e está em plena r.
2 volta à vida normal, ao ambiente social ou de trabalho
Ex.: o acompanhamento psiquiátrico foi fundamental para sua r.
3 Rubrica: termo jurídico.
ato por meio do qual alguém é reintegrado na posse de algo que lhe tenha sido retirado
4 Rubrica: pedagogia. Regionalismo: Brasil.
período de estudo (de um reprovado) em que se prepara para prestar uma segunda prova que o capacite a passar para o grau acadêmico seguinte
Ex.: ficou em r. em duas matérias
5 Derivação: por metonímia. Rubrica: pedagogia. Regionalismo: Brasil.
a prova realizada no final desse período de estudo
No meu segundo dia no Seminário Internacional de Educação e Prevenção ao uso de Drogas e à Violência senti a curiosidade de entender o significado da palavra “recuperação”, justamente por estar em um local em que ela faz muito sentido e pela relação direta com a pratica educativa, muito discutida no Seminário.
Entre as acepções apresentadas no Dicionário Houaiss, a que mais me interessou foi o termo jurídico: “ato por meio do qual alguém é reintegrado na posse de algo que lhe tenha sido retirado”.
Seria ingênuo pensar que somente a dignidade dos jovens que se recuperam aqui na Fazenda é algo que lhes foi retirada. Eles também perderam famílias, saúde, mas não são eles os únicos “enfermos”, só eles que necessitam de tratamento.
Estamos todos doentes, porque a sociedade está doente há muitos anos. E essa enfermidade não só nos privou de direitos básicos: saúde, educação, segurança, alimentação, mas principalmente tornou-nos cidadãos esquizofrênicos, ao ponto de olharmos para nossos iguais, TODOS OS DIAS, e sermos capazes de desviar o olhar, fechar o vidro do carro, mudar de canal.
Perdemos a capacidade de nos sensibilizar e aprendemos a fazer da dimensão dessa tragédia social desculpa esfarrapada para o nosso comodismo.
Dois dias entre educadores e desfrutando da atmosfera da Fazenda da Esperança me fizeram chegar a uma simples conclusão: EU TAMBÉM PRECISO ME RECUPERAR!
A vivência aqui entre marginalizados pela sociedade e profissionais que tentam de alguma forma transformar trabalhos “solo” em uma potente orquestra, grito emergencial para a conversão do cenário sociopolítico que nos encontramos, me fez pensar em conceitos, como o que intitula essa minha reflexão.
Se não procuramos “reintegrar” a nossa visão a respeito da dignidade, da sensibilidade e da necessidade de transformar SOCIEDADE e a nós mesmos parecerá hipocrisia consideramo-nos mais capazes do que qualquer pessoa, marginalizada ou não, do convívio social.
Aqui, ontem, no “momento mais importante do dia”, como disse um dos “recuperandos”, pude sentir a potência do que é o “amor ao próximo”, a fraternidade, que aqui adquire outra dimensão, profundidade.
“O Senhor operou maravilhas por nós” era a canção que concluía o momento de adoração daqueles jovens, com as mais inacreditáveis histórias, de todo o país e de outros lugares do mundo. A potência assustadora daquelas vozes entrou pelos meus ouvidos e me transformou.
Sim – pensei. Para mim também o “tal” Senhor operou maravilhas. Deu-me saúde, formação e sensibilidade para perceber que ainda existem profissionais preocupados com a ESPERANÇA, verdadeiro motor das transformações, realidade instigadora, provocadora.
Ter esperança hoje é beirar a loucura, digna de recuperação. Mais devo admitir que, no fundo, depois de entender aqui, “na carne”, o significado dessa palavra, até preferiria ficar mais uns dias para me tratar. Todos deveríamos.