_ Você sabia que sou uma menina? – Me disse um jovem rapaz enquanto segurava o cesto com guardanapos.
Meio sem jeito, não sabia o que responder, mas ele continuou…
_ Sim, é verdade, só tenho voz (e barba, eu pensei) de homem, mas na verdade sou uma menina…
Já no cume do constrangimento vejo que o jovem sorri e conclui:
_To brincando meu, eu sou assim mesmo, brincalhão, meu nome é Antônio e o seu?
Naquele momento sentia uma alegria tão inusitada quanto a saudação-brincadeira pouco usual.
Estava enfim no RANGO!!!
Silêncio
… não conseguia dizer muita coisa
… era meu coração explodindo de alegria por poder viver, pelo menos um pouco, por aqueles irmãos de rua.
Fiquei transtornado pelo amor da Drica, do Vini, Daniboy, que há tanto tempo dão a vida por aquela atividade, juntamente com o pessoal da paróquia.
Acho que só eu, os franceses amigos do Daniboy e a amiga argentina da Lu nos sentimos bem perdidos, porque via nos outros uma naturalidade fenomenal, expressa em sorrisos, saudações e no constante entregar – limpar de pratos.
_ Você precisa de ajuda? – perguntei a outro jovem, Marcelo, que tinha acabado de começar a lavar os pratos. Não tinha muito o que dizer, mais perguntar dele, desde quando era voluntário, coisas simples…
Surpreendi-me em saber que ele havia começado a ajudar há 12 anos atrás. Senti-me pequeno… e não sou? Sim, claro que sou, mas é realmente o amor que nos faz grandes, filhos de Deus.
O tempo passou rápido… entre conversas, risadas, provocações à argentina, passar pano no chão, procurar meia e cueca para os moradores de rua. Quanta felicidade.
No final estava plenificado. De me ver arregaçando as mangas pela primeira vez ali no Rango… lembrando do Rafa, das experiências contadas, do protagonistmo cristão, autêntico, sem assistencialismo, puro amor.
Sai de lá pensando no quanto é no viver pelo outro que nos sentimos gente.
No doar, no sorrir, no brincar, saudar, olhar aqueles pobres de bens enxergando a minha pobreza de espírito, a minha pequenez.
Inesquecível essa minha primeira experiência no Rango.
Vitor
Parece que você sofreu uma iniciação.