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21:15. Resolvo voltar para casa, pois já fiz o trabalho que seria cobrado na aula seguinte. Fico batendo papo com o pessoal na praça de alimentação, até me levantar e decidir ir embora.

“Se eu morrer, foi bom estar com vocês”, comento de forma jocosa aos meus amigos e me despeço com a usual alegria que sinto quando estou na faculdade.

“Será que aproveito para fazer uma visita para a Mariana?”. Penso, pego o celular e ligo. “Esse telefone está programado para não receber mensagens”. Ok, me rendo e decido voltar.

Pego a Tina (bicicleta) e começo a descer a Monte Alegre, com a pressa e os cuidados usuais, mas desta vez não terminaria aquele trajeto com ela.

Desvio dos carros em velocidade média, mas sou surpreendido com o frear de um carro na hora em que iria ultrapassá-lo.

Silêncio.

A batida me jogou de queixo em direção ao vidro traseiro do carro, que foi completamente destruído. Com o impacto, na volta, fui amortecido pela grande mochila que abrigava meu notebook e a câmera digital recém comprada. Parecia o fim, mas ficou tudo intacto.

Demorei uns 5, 10 segundos para me dar conta do que tinha acontecido e só percebi que não era um sonho, quando senti o sangue jorrar do meu queixo. “Você brecou em cima e nem deu seta!” Mas, minha preocupação em saber se tinha quebrado alguma coisa, foi maior que a revolta diante da imprudência do motorista.

Fui levantando aos poucos e pedi um pano para estancar o sangue do queixo. “Como você vai fazer com a bicicleta?” perguntou uma moça que passava e morava no prédio ao lado. Tina estava destruída, justo ela, minha grande companheira, mas naquele momento tinha que resolver a minha situação.

Esperamos 15 minutos, a policia não apareceu e pedi para eles me levarem no hospital Santa Cecília, mas chegando lá “nós só atendemos Intermédica”, foi o que ouvi desapontado porque meu seguro é Bradesco. “Perto de casa tem um pronto socorro, me levem lá”, disse aos meus atropeladores, pessoas simples, pobres, que mostravam apreensão e desconfiança no como as coisas iriam se desenrolar.

Chegamos ao pronto socorro e fui atendido imediatamente. Fiquei inconformado com a indiferença dos atendentes e do enfermeiro da sala de curativos. Deitado, rezando e pensando no que poderia ter acontecido, agradeci a Deus e pedi força para suportar as dores dos pontos e das injeções que viriam.

Dr. Rossi chegou mudo e saiu falando bastante. Deu a anestesia local e com agulha e linha foi remendando a pele que se soltou do meu queixo. Após os muitos pontos e as orações, estava pronto. Fiz algumas perguntas em relação è limpeza e exames na cabeça, mas o médico me tranqüilizou. “Fique amanha em casa, em repouso e faça exames se tiver sonolência ou vomito”.

Pensando que o terror daquela noite já tinha terminado, ouvi do Dr. Rossi: “Acho melhor você tomar uma Bezentacil, para não infeccionar o machucado”.

“Que merd…” pensei, mas me lembrei da Paulinha (amiga que faleceu recentemente por conta de uma fibrose cística) e criei coragem.

“Valter Hugo!”

“Sou eu! Tia, eu vou chorar com essa Bezentacil”

“Vai nada!”

Entro na sala, levanto a camisa e abaixo as calças. O penetrar da agulha assusta, mas nada se compara a dor do líquido gelado que se espalha pelos glúteos. “Por ti Senhor, por ti”, é o que consigo dizer diante daquele momento.

Respiro e ando cambaleando até a porta. Agradeço as enfermeiras, dou boa noite a todos, procuro sorrir. Afinal de contas, estava vivo, consciente.

Encontro minha mãe e minhas irmãs na porta do pronto socorro, assustadas após a notícia que eu havia dado um pouco ante da Bezentacil. “Está tudo bem”.