Era uma vez um homem centrado em si mesmo.
Louvado pela sua equipe de trabalho, Zé era extremamente bom naquilo que se propunha a fazer, mas não conseguia se relacionar nem mesmo com uma porta.
De nada adiantavam as manifestações de carinho dos colegas de trabalho. Zé continuava sempre focado, não tinha tempo a perder com sentimentalismo.
Passaram-se os anos e Zé foi aumentando sua visibilidade dentro da empresa. Passou de efetivo à coordenador. “Em pensar que alguns anos atrás estava de Boy, entregando boletos de banco para o Financeiro”.
Agora Zé já era Assessor da Diretoria e seu prestígio chegou até o presidente da empresa, que o chamou para um colóquio particular:
“Entre meu jovem. Gostaria de saber o que você tem feito…”
“Bom… desenvolvi um sistema de informações com tabelas, gráficos, para calcular o desempenho da empresa, com a finalidade de identificar todas as falhas de procedimento que geram déficits e…”
“Basta! Não foi na empresa que eu perguntei. Quero saber o que você faz da vida. Se você é casado, tem filhos, seus hobbys..” E Zé emudeceu. Percebera que até ali tinha se desenvolvido como funcionário. Chegava mais cedo, era sempre o último a sair do escritório central, mas não tinha amigos, apesar da idade avançada nunca havia encontrado uma mulher que estivesse disposta a dividir a vida com ele, ou seja, vivia exclusivamente para o trabalho.
Enquanto o presidente da empresa aguardava Zé, o som do “tic tac” do relógio o fez pensar em sua infância, adolescência e o quanto era feliz naquele período.
“Joga a bola Zé!!! Para de ficar enrolando porque a gente ta perdendo o jogo!”
“Calma, já vai o zabezão!!”
O chute do garoto atravessou todo o campo e caiu bem no pé do talentoso Henrique que foi rápido o suficiente para driblar o goleiro e fazer um belo gol. O apito do juiz decretava o fim do jogo e o empate garantia o tão sonhado titulo do Jogos Universitários.
A festa foi longa. Joana, sua namorada correu para beijá-lo, enquanto todos se abraçavam e festejavam a vitória. “Parabéns amor. Estou orgulhosa de você!”.
Nesse período Zé era mesmo feliz… tinha amigos, praticava esportes e namorava a garota que ele desejou a vida toda.
“Como foi que você deixou de fazer as coisas normais?”.
A voz do presidente da empresa trouxe Zé novamente para a sala do grande chefe e aqueles momentos de glória se esvaeceram, da mesma forma que o sentimento de segurança que tinha tomado conta dele. Sem saber o que dizer Zé abaixou a cabeça.
O presidente se decepcionou pois acreditava que o trabalho dignificaria o homem, faria com que as pessoas entendessem que tudo é parte do desenvolvimento humano-afetivo pessoal.
“Pode passar no DHO. Não posso mais aceitar homens-máquinas na minha empresa, quero gente com coração, que saiba se relacionar, são essas as novas diretrizes estipuladas pela Academia do Grupo”.
“Ok, irei imediatamente.”, disse Zé, que na mesma tarde, jogou-se da ponte e tirou sua vida, pois já havia perdido tudo aquilo que dava sentido a ela.
Camila
nem vou falar nada… ops! jah falei…