781-Blindfold

Estava eu em minhas tão sagradas horas de sono quase sempre mal dormidas. Quase dei um pulo com o soar do despertador, que para os meus ouvidos recém acordados, pareciam os sinos da Catedral da Sé. Nada fora do comum, se não fosse o detalhe de que não conseguia abrir os olhos.Forçava, esforçava, mas eles não abriam.

Coloquei a mão sobre os meus olhos e percebi que eles estavam sim abertos e eu… estava cego.
O desespero quase tomou conta de mim, mas sorri e aliviei-me ao ver que as formas começaram a se recompor á minha frente.

Passado o susto, levantei, tomei café, me troquei e saí para mais um árduo dia de trabalho.
Ao sair, percebi que não havia pessoas na rua, não via nada além de construções, ruas, árvores… Elas haviam desaparecidos.

Contudo, o que me chamou a atenção, foi o fato de poder ouvir vozes de crianças brincando, pessoas, pessoas conversando e concluí que estava realmente CEGO.

Não a cegueira do “Ensaio” de José Saramago, agoniante de NADA poder ver, mas uma doença específica. Passei a viver num mundo sozinho, no meu mundo. Um dia sem poder me relacionar, pois não via ninguém para conversar. Sentia as vozes felizes, conversas, risadas, mas não podia VIVER aquilo.

Não sabia sequer o que fazer, mas como auto – defesa, passei a imaginar essas pessoas. Via-as em meus pensamentos, bonitas, alegres, sempre bem. Uma felicidade sonhada e almejada por tantos. Passei horas nessas “viagens da imaginação”até levar o terceiro susto do dia.

Todos aqueles momentos desejando ser feliz estava fazendo com que eu desaparecesse. Minhas pernas tinham desaparecido quase por completo.

Comecei a me desesperar e o descarte daqueles pensamentos foram refazendo meu corpo.
O dia foi acontecendo, estava sozinho, infeliz e qualquer vontade de ser uma daquelas vozes devorava partes do meu corpo. Se quisesse existir tinha que VIVER, ao invés de sonhar.

Pensei que ia passar o resto da minha vida sozinho… até conhecer Ele e me dar conta de que é possível ser realmente feliz.

Encontrá-Lo me fez escolher a verdadeira felicidade, diferente da mundana, egoísta e individualista das pessoas. Uma felicidade falsa, só imagem. Para sermos felizes temos de ser coerentes, nós mesmos e acreditarmos que os nossos ideais valem á pena ser vividos.

Descobri que não sou cego, busco a minha felicidade, não aquela baseada em coisas que passam, mas aquela ETERNA.

(Escrito para uma pessoa especial, em um momento especial)