Automedicação contra honestidade

desonestidade

Existem mais de 100 drogarias “24 horas” espalhadas por São Paulo, buscando atender os imprevistos que podem afetar a saúde de maneira branda ou acabar definitivamente com ela.

Segundo um levantamento da Fiocruz – Fundação Osvaldo Cruz -, o estado de São Paulo lidera o ranking de intoxicação por remédios, com mais de 13 mil registros por ano e o número de casos médios de uso indiscriminado de remédios está crescendo.

Na noite de quinta-feira, vou a uma dessas drogarias para comprar Pasalix, remédio com a função de combater a ansiedade e a insônia da minha mãe, professora de Ensino Fundamental, do nada generoso estado paulista.

Chegando na Droga Verde da avenida General Olímpio da Silveira, já passadas às 23 horas, percebi uma fraca circulação de pessoas, mas, conversando com uma senhora que parecia ser uma das funcionárias da drogaria, estava uma mulher bem vestida, que aparentava uns 40 anos.

Enquanto esperava, fui tentando descobrir se o Pasalix era remédio de prateleira, mas foi uma decisão em que obtive pouco sucesso. As drogarias da rede Droga Verde têm uma infinidade de produtos espalhados nas 40 unidades da cidade e comercializam medicamentos, vitaminas, cosméticos e artigos de higiene em geral. Verdadeiros shoppings centers da saúde que, não raramente, oferecem, de maneira irônica, cigarros aos seus clientes no balcão de vendas.

Aguardando “só um momentinho”, que já passavam de 15 minutos, escuto a senhora bem vestida discutir com a farmacêutica, sem conseguir entender do que se tratava. Aproximo-me e aos poucos vou ouvindo a confusão. A senhora precisava de um remédio para dor e obrigava a funcionária a indicar algum remédio eficiente, mas a farmacêutica negava. “Isso não é permitido, minha senhora!”. “Eu sei, mas sou sua cliente!”
Inconformada com a falta de flexibilidade da funcionária em não querer indicar remédios, a cliente começou a se exaltar. “Você me negou informação uma outra vez e levei um remédio que me adiantou nada!”.

Nas farmácias, todos os dias, consumidores procuram por remédios sem receita médica. “As conseqüências de tomar um remédio sem a indicação correta podem ser muito graves e em alguns casos leva à morte”, diz a toxicologista Rita Higa. A situação se agrava ainda mais quando a vítima é criança.

Os minutos vão passando e a mulher continua ofendendo a funcionária da Droga Verde. Quer de qualquer jeito uma indicação de remédio, mas acaba não obtendo. “Ah, me dá qualquer um então sua incompetente!” e dirigindo-se ao caixa, não deixa de exprimir para os outros funcionários da Droga Verde sua insatisfação pelo mau atendimento.

O que preocupa ainda mais é que, de acordo com um estudo da Fundação Osvaldo Cruz, as intoxicações por remédio bateram recorde no país e revelam que, em média, três ocorrências são registradas por hora. E o estado de São Paulo representa 41% dos casos.

Depois daquele show, finalmente chegou a minha vez de ser atendido e tentei olhar com certo respeito pela farmacêutica. Exemplos de dignidade como estes, na área da saúde, são tão raros que merecem grande consideração.

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1 Comment

  1. Gisele Brito

    Que tipo de dor tinha a senhora? Alguns remédios podem ser vendidos sem receita. Você chamou a pessoa que atendeu a senhora na drogaria de farmacêutica. Era mesmo? Boa partes das farmácias funcionam sem a presença deste profissional, o que é irregular. Muitas vezes a mocinha ou o rapazinho que nos atende é simplesmente um balconista, que realmente ñ é apto para dar informações sobre medicamentos.
    A mocinha que atendeu a senhora negou dar informações sobre o remédio, mas vendeu “qualquer um” do mesmo modo. Não acho que ela, muito menos a drogaria, deva ser vista com tanta parcimônia.

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