meu_anjo_pequeno_alegria_

“Pra sempre, permanece a sua vida,
Luz, nata da eternidade,
Um Obrigado, grande e infinito,
Á Deus, por você.”

Os versos dessa canção, em italiano, eram a trilha sonora de uma caminhada longa, dentro de um túnel escuro, que eu não imaginava aonde iria chegar. Aos poucos a luz externa foi preenchendo a escuridão e ao sair do túnel contemplei um imenso Jardim, plano como os pampas argentinos, mas repleto de flores coloridas.

Demorei um pouco para acostumar a vista e quando me dei conta da beleza do lugar, senti subitamente uma felicidade rara e profunda.

Em um balanço estavam dois conhecidos, uma senhora e um senhor, ambos velhinhos, conversando como se não tivessem se encontrado há muito tempo. De repente, vi que eles se recolheram como se estivessem rezando. Sorri porque imaginei que aquele era um encontro esperado.

Porém, o que mais me cativou foi ver lá longe, duas crianças brincando, correndo e logo me dei conta que também as conhecia. A Menina que perdeu o assovio ria alto, estava tentando fugir do Pequeno – alegria, que tinha acabado de chegar ao grande Jardim.

Pequeno – alegria tinha passado por tempos difíceis. Antes de chegar ao Jardim não podia correr, pois sua perninha doía muito. Mesmo assim ele sempre teve o sorriso estampado no rosto. O menino era esperto como poucos. Encontrava explicações inteligentes para questionamento complexos, coisa que nem adulto conseguia às vezes entender.

Mas o Pequeno – alegria tinha uma grande vontade de correr, jogar bola, como todas as crianças da sua idade, só que para isso precisava ir morar no grande Jardim.

Todas essas explicações eu ouvi de um Senhor alto, cabeludo e de barba feita. Tinha uma sensação engraçada de já tê-Lo visto em muitos outros lugares, mas estava tão compenetrado em entender aquela situação que não me prendi aos detalhes do meu interlocutor.

Continuei caminhando em direção às crianças que brincavam até que ambos me reconheceram e começaram a correr na minha direção, de braços abertos. Sem me conter, também abri os meus e quando nossos corpos se encontraram…

_Que? Partiu? O Rafinha?
_ Sim, as 5:10hs.
_ Descansou, que bom!

Acordei atordoado, sem entender aonde estava, mas percebi que o Pequeno – Alegria tinha mesmo se encontrado com a Menina que perdeu o assobio.

(Texto em homenagem ao Rafinha, menino de 4 anos, filho de um casal vizinho de apartamento, que cresceu ao nosso lado e que hoje faleceu por conta de um câncer que há quase dois anos o acompanhava. Rafinha foi a criança mais sorridente e divertida que pude conhecer. Fica um mix de dor e alegria por ter sido agraciado com a sua presença e o seu sorriso)