Glauco começou a fumar com 12 anos. Pra fazer média com os amigos da escola, é claro, porque já tinha consciência suficiente pra saber que o cigarro era algo prejudicial pra sua saúde. Mas, como pré-adolescente ta sempre procurando aventuras, nem ligou pra nóia típica de adulto chato e careta.
Com 14 anos começou a jogar bola na categoria infantil. Até que era bom, nenhum Robinho da vida, mas tinha habilidade e um chute forte. Só que já ali, o poder do tabaco começou a fazer efeito. Não agüentava jogar os três tempos e isso o fez perder a artilharia do campeonato, tão sonhada, para um magricela da escola rival.
Tirando esse percalço, Glauco até que tinha uma vida normal. Ia bem na escola, saía com os amigos, só perdia mesmo na corrida. Até que entrou na USP e conheceu a Carolina. Morena do sorriso encantador, um pouco mais baixa que ele. Demorou seis meses pra se aproximar dela e quando conseguiu, descobriu que ela tinha aversão a cigarro.
Fez de tudo para parar de fumar. Tentou chiclete, adesivo e até terapia, mas era tarde, já estava viciado. Passou os quatro anos amargando uma desilusão que beirava o desespero. Olhava para Carolina e a desejava sempre, mas, o cigarro era “ciumento”.
Porém a frustração durou até conhecer a Joana, que fumava dois maços por dia e de companheira de tragos, passou a ser sua esposa.
Tiveram filhos normais, sem problemas respiratórios, mas Glauco nunca agüentava brincar mais de meia hora com os meninos. Com as leis que limitavam a presença do fumo em lugares públicos, passou a se isolar em casa, não saía mais, pois não dava pra ficar sem cigarro.
Com 55 anos, descobriu um câncer no pulmão. Tinha uma enorme mancha preta no raio x e os médicos deram mais 2 ou 3 anos de vida, e só. Os anos passaram, a saúde foi piorando e logo ele não conseguia mais sair da cama.
Via seus filhos o olharem apreensivos, ainda meninos. A esposa havia morrido há dois anos. Mas agora era a sua hora e o desespero de pensar com quem as crianças ficariam, ocasionou uma falta de ar, a última, percebida com um “bip” contínuo e com o choro estridente dos meninos que, de agora em diante, teriam que respirar sem a presença dos pais.
*respiração (in italiano)