Month: April 2008 Page 3 of 4

Ode a depressão

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Essa depressão que intermitentemente me sufoca
É o que faz sair tanta imundície dessa minha boca.
Por isso me esforço perenemente pra estar em silêncio.
E não dizer de forma mentirosa, falsa, aquilo que penso.

Tantas vezes sou envolvido por um terrível Mal.
E passos horas comigo mesmo pra saber se isso é normal.
Encontro poucas respostas e não entendo o que importa,
Mas sempre acabo machucando quem está a minha volta.

Deito no prado
Para descansar a alma incomodada.
Me calo.

Ouço o tom da melodia
Para descansar a alma incomodada.
Faço poesia.

Confissão

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Não sei dizer bem aquilo que sinto,
mas sinto dizer que te quero pra sempre.
Não sei ficar quieto para evitar os conflitos,
Mas queria estar, na sua vida, presente.

Não sei te ouvir de modo com que você saiba
que tudo na sua vida para mim importa.
Mas ouça que cada minuto sem você
É uma desagradável melodia sem notas.

Não sei sempre ver o bom diante das nossas diferenças normais,
Só sei que para mim eu quero que elas sejam banais.
Não sei falar, ficar quieto, fazer silêncio
e nem mesmo perceber que estar com você
me faz sentir o melhor dos sentimentos.

Mas sei que te amo muito e quero a sua felicidade,
Mas se você ainda não a sente plenamente, desculpa.
Até mesmo por não saber recomeçar direito.
Porém digo, com esta poesia, que quero mais que tudo na vida,
Superar com você, essa grande “sfida”*.

*(desafio – em italiano)

O Cubo Mágico

Recebi quando era bem novo um cubo de seis faces coloridas.
Engraçado o quanto aqueles arranjos em azul, verde, amarelo, vermelho, laranja e branco se multiplicavam com um simples movimento despretensioso.

Porém o mais interessante foi ver que cada pequena face que compunha um dos lados do cubo era uma pequena dimensão da personalidade do menino dos olhos azuis.

Desde muito novo ele me acompanhou, vivemos juntos incríveis aventuras e contemplei muitos “arranjos e desarranjos” visando uma organização necessária e também os momentos em que era melhor preservar a falta de precisão nas cores de cada face.

O menino-cubo, (ou seria o cubo-menino??) me ajudou a descobrir o significado de tantas coisas, o sentido verdadeiro de um Amor muito além do que eu poderia entender sozinho, pois fazia parte de uma dinâmica nova, pouco conhecida pelo mundo das pessoas “normais”.

Assim, aos poucos, o tempo foi passando e eu fui vendo que meu rosto ia aos poucos se delineando nesse enorme cubo. Fui me dando conta também que outros rostos já brilhavam em uma das muitas facezinhas que compunham uma determinada cor.

Desde então descobri que não só sou um pouco do menino, mas ele é um pouco de mim.

(Cubo mágico ou Cubo de Rubik é um quebra-cabeças tridimensional, inventado em 1974, pelo húngaro, escultor e professor de arquitetura Ernő Rubik. Inicialmente recebeu a denominação de Cubo Mágico, mas em 1980 o nome foi mudado para Cubo de Rubik. Apesar da mudança, no Brasil continua sendo conhecido pelo nome dado originalmente pelo autor. – wikipedia)

Vazio voraz

vazio



O vazio voraz que sinto por não saber por onde rumar
Tiram-me os resquícios de paz provenientes da “última refeição”.

E as certezas… essas sim se desfazem!!
Não pela fragilidade das mesmas,
Mas pela força do Mal que me consome de maneira incompreensível.



Passo tanto tempo procurando respostas racionais,
Mas por fim, o que me sustenta são os pequenos “atos de amor”
Nem sempre gratuitos (se é que a gratuidade humana realmente existe),
Mas verdadeiros, concretos.

Assim, os dias passam e a dor, as dúvidas permanecem.
Só as conclusões que não chegam, talvez nem existam.
E nesse mistério de uma noite sem lanternas, nem mesmo um isqueiro.
Recebo um abraço, daqueles que escolheram, antes de tudo, amar por primeiro.

Sustentados pela Fé em Deus

pregador
São 17:30hs na quente tarde de outono da capital econômica brasileira. As ruas centrais de São Paulo acolhem centenas de pessoas, que se tornam milhares quando se aproxima o fim do expediente. Subindo pela Rua Direita, camelôs se espalham em diálogos vagamente audíveis e ofertas “dois por um real” aparecem a cada metro superado. Os paulistanos, sempre apressados, não se cumprimentam, nem se olham, num frenesi de quem não tem tempo para perder.

Chegando a Praça da Sé, um grupo de pessoas se reúne a certa distância. Difícil distinguir do que se trata, diante daquele “mar de gente” que cotidianamente trafega pelo marco central da cidade. Aproximando-se não é difícil perceber mais uma daquelas rodinhas famosas, que contam com alguma espécie de atração bizarra, muito popularizada por programas de auditório que preenchem a programação dominical há anos.

Um senhor, de estatura baixa, trajando roupas sociais finas e uma bíblia na mão, esperneia pregações complexas e eufóricas que contagiam todos os que se aproximam para observar a cena. Os aparentes cinqüenta anos se contradizem com a energia e a força de suas palavras professadas, enquanto um companheiro, que está dois ou três metros do pregador, lê um trecho do “Novo Testamento”, de forma simples, tímida, mas confiante, intercalando a seção de berros do pregador.

Assistindo ao evento estão cerca de quarenta pessoas. Possíveis trabalhadores, pessoas de aparência simples, talvez boys, motoboys, secretárias, desempregados, que buscam conforto naquelas palavras professadas com tanto ardor.

No grupo de discussões online da Yahoo uma pergunta: quem sustenta os pregadores? O usuário que abre o fórum de discussões, denominado Chaka, faz seu relato: “Trabalho no centro de São Paulo. Aqui no Viaduto do Chá tem um pregador que fica lá o tempo todo, batendo numa Bíblia surrada e gritando coisas incompreensíveis. Já tive vontade de perguntar pra ele quem paga pra ele ficar ali, ou se ele é aposentado ou tem algum rendimento, se tem casa, família, mas fico com medo dele armar algum escândalo ou não me deixar mais em paz depois, então resolvi perguntar aqui, que é mais seguro (hehehe): quem sustenta eles?”

Perguntas desse tipo provavelmente intrigam grande parte dos transeuntes do centro da cidade. A primeira consideração a respeito da pergunta de Chaka no fórum diz: “Geralmente os “pregadores” têm o objetivo de ganhar fiéis para as igrejas. A grande maioria não pensa diretamente no dinheiro, pois estão tão cegos pela sua fé que acreditam fazer aquilo em nome de Jesus e quem acaba metendo o dízimo no bolso é a igreja. Os bispos ou pastores que pregam dentro das igrejas, se não me engano, recebem um salário (equivalente à sua importância, claro), mas os pregadores de ruas não passam de fiéis rabugentos que no máximo levam um vale alimentação… Talvez um vale-paraíso também (mas esse não sustenta por aqui). Obs: não adianta discutir com eles pois é pedir pra ouvir meia hora de “encheção de saco”.

Todos trajam roupas simples e acompanham com palmas e gritos de “glória a Deus” e “viva a Jesus”, cada oração exaltada do pregador.

As controvérsias a respeito da atuação dos “pregadores de rua” geram muita discussão. Opiniões contrárias ao laicato pós moderno são também apresentadas no fórum on-line. “O Senhor sustenta, é bíblico.” diz o usuário Shalon, deixando evidente que muitos dos trabalhadores que freqüentam esse tipo de pregação acreditam na “graça” do pregador. Bruna, outra usuária, acrescenta em seguida: “Alguns dos pregadores trabalham, outros são sustentados pela igreja. Mas viver da Obra é complicado, por exemplo, o meu pastor, esses tempos atrás, passou fome, mas graças a Deus essa fase passou”. A usuária Adrika, também procura responder a pergunta: “Existem pessoas que são separadas por Deus para um determinado trabalho. Alguns conseguem conciliar a obra de Deus com o trabalho secular (que é o meu caso), outros, porém, dedicam-se 24h ao trabalho missionário. Estas pessoas (quando verdadeiramente separadas por Deus) recebem o auxílio da igreja onde congregam”.

A passagem do pregador da Sé fala da vitória de Deus sobre o Mal. “Deus é grande” pregava o homem. “Temos que aprender a não ser, para ser!”. “Temos que juntar tesouros no Céu, pois de nada valem os tesouros terrenos. Aí me dizem: Irmão, eu não posso ir para o Céu agora, como vou ajuntar tesouros celestes? E eu digo: Tive fome e me destes de comer, tive cede e me destes de beber, estava preso e fostes me visitar. Aquilo que fizeres aos menores dos meus é a mim que o fazem!”

O pregador se aproxima dos espectadores intimando-lhes, apontando o dedo em suas faces, perguntando se eles acreditam em suas palavras. Timidamente as pessoas continuam a dizer “glória a Deus”.

Jaqueline é contrária à ação dos pregadores “Eu não os agüento. Acho que a pessoa tem todo o direito de seguir uma religião, desde que as outras não sejam incomodadas. Mas essas pessoas são tão teimosas. Ainda têm aquelas que tocam a campainha da sua casa. Eu nem atendo”.

Passados trinta minutos, Marlene, senhora que mora no Cambuci, Zona Sul de São Paulo, se aproxima e diz: “Ta vendo moço, se vê que ele não pede nada pra nóis” e alguns minutos depois “é Deus que pede através dele”.

Um pastor, denominado Irmão Cébio, da Igreja Pentecostal, também responde a pergunta: “A maioria dos (pregadores) que eu conheço se sustentam, como é o meu caso. Bom… como ele passa o dia todo lá, deve ser aposentado por algum motivo, já que a ajuda de custo dado pela igreja geralmente não dá tanta comodidade a um pai de família”.

Os fiéis tantas vezes incentivam os outros espectadores a dar sua “contribuição” para o pastor que, segundo eles, pede em nome de Deus. “Aquele homem simples que prega o evangelho batendo numa bíblia surrada, talvez seja aposentado, não há quem o sustente, a menos que seja um missionário ligado a alguma igreja com o fim de evangelizar, mas tais missionários geralmente são pagos para, além do evangelho, fazerem obras sociais em regiões carentes. Logo o tal pregador é uma testemunha voluntária que deseja que os ouvintes não sofram o juízo de Deus, que escapem à condenação. Ouça-o mais atentamente e, decerto também há de ouvir em sua voz, a voz de Deus.” – diz Euclides, no comentário que fecha a discussão.

As pregações no Centro continuam e Marlene insiste “hoje eu dei R$50,00 para ele. Vai me fazer falta, mas foi Deus que pediu através dele e por isso eu do”.

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