Pai_Natal_02

Encontrei o velho gordinho enquanto caminhava cabisbaixo pelas ruas da grande metrópole onde vivo. O silêncio atípico da cidade angustiava até os vira-latas, que uivavam naquela noite chuvosa.

Aquele senhor, todo sorridente, olhava para mim com um “quê” de curioso, talvez se perguntando sobre por que cargas d’água eu estava, naquela hora e naquele dia, andando sozinho pelas ruas.

Porém, mal sabia ele que eu não tenho ninguém. Há anos, desde que meus pais se foram, comemoro o que chamo de “o dia da família” sozinho. Recebo sempre muitos presentes dos colegas de trabalho, da vizinha de apartamento, mas é habitualmente estranho, porque me sinto vazio.

Contudo, mesmo sem saber, o velhinho se aproximou e me convidou para dar uma volta com ele. Aquela barba branca, a roupa vermelha, o barrigão, me faziam lembrar alguém conhecido que não soube identificar. Caminhamos juntos por muito tempo, em direção a uma estrela que ele não cansava de apontar e admirar.

Chegando ao lugar onde a nossa guia apontava, vimos uma mãe segurando um bebê neonato. Aquele sorriso, o lugar simples, que lembrava um estábulo, me fizera lembrar das tantas crianças que nascem no Brasil, à mercê da sociedade. Que se tornam bandidos por não terem braços que as acolham, não reconhecerem e sentirem o que é o Amor.

Porém, aquela criança, parecia diferente das que já tinha visto, tinha algo de especial nela, pois senti uma alegria deliciosa enquanto olhava para ela, quase inexplicável e não conseguia me deter em pensamentos ruins. Via espelhada nela uma família modelo, a resposta para todos os meus questionamentos a respeito do que seria uma Verdadeira Família.

Assim, mesmo sozinho fisicamente, sentindo-me talvez fracassado, infeliz, via, naquele momento, um bom motivo pra sorrir, outros tantos para cantar, dançar, festejar, pois via que podia recomeçar.

O velhinho passou o braço pelo meu ombro esquerdo, me senti reconfortado e percebi que o nascimento daquele menino e o amor daquela família me mostraram o que significa festejar aquele dia, o valor de estarmos juntos, para comemorar o que chamamos de Natal.