A menina que roubava livros era muito amiga de outra, que havia encontrado um velho romance, sujo e desgastado. O livro falava de um menino que tinha um amigo invisível e era conhecido por estar sempre sorrindo.
Durante o romance, a menina ia se deliciando com as descobertas que o protagonista ia fazendo, as viagens, os sonhos realizados, relacionamentos edificados. Parecia realmente uma vida interessante.
Até que, depois de passar horas e horas lendo, foi se dando conta de que o livro nunca chegava no final. Leu que o menino havia deixado sua casa por quase dois anos, que era o único homem em uma família de seis mulheres e não gostava de cantar por um motivo que ele não sabia definir, mas que era basicamente por acanhamento pessoal.
Contudo, o livro ia sendo devorado verozmente pela garota, ela não conseguia não ler, deixá-lo de lado sequer um minuto, mas era em vão… o livro nunca chegava ao fim. A menina foi aos poucos se irritando, não entendia o porquê de tudo isso, do livro não dar respostas imediatas para o “andar da carruagem” que a história se propunha revelar.
O livro velho aos poucos foi deixando de ser interessante e estar com ele em mãos passou a ser mais um motivo de irritação do que alegria, muito pela impaciência da menina. Porém, ela não desistia, a impaciência era também teimosia, ela tinha que saber o final do livro e decidiu aos poucos se acalmar e continuar lendo, mesmo sem saber se o livro tinha ou não fim.
Vagarosamente as coisas começavam a serem reveladas…. ela ia descobrindo cada vez mais coisas sobre o protagonista… seu gosto pelas pessoas, sua irritação com o comodismo, seu amor por Deus e outras coisas que fizeram a menina voltar a gostar de ler o livro.
O livro velho continua ainda sem fim, a menina não terminou nem mesmo o primeiro capítulo, mas aos poucos vai vendo que a história se torna interessante à medida em que ela simplesmente lê, sem esperar o final do tão querido romance.