Uma nova fase começou na vida da princesa assim que ela redescobriu quem realmente era e reaprendeu a se olhar no espelho. Parecia que tinha um novo mundo para viver. Passou a ver o quanto as suas virtudes, mas também seus defeitos serviam para tornar o reino ainda mais belo.
A coroa que ela havia perdido tornou-se irrelevante, na medida em que ela notava o quão bonitos eram os seus olhos, delicados seus cílios, avermelhada a sua boca. Era realmente uma jovem magnífica.
Porém, o tempo passava e diante das suas dificuldades e desencontros consigo mesma, a princesa buscava o espelho sempre que era preciso apaziguar sua alma. As respostas pareciam estar sempre nela, escondidas no próprio ser, na própria imagem.
Assim, a princesa foi ficando cada vez mais tempo em seu quarto, para se conhecer minuciosamente e explorar suas capacidades ao máximo, para então cativar ainda mais seu povo. Consequentemente, o espelho tornou-se o principal objeto do quarto. Ela passava horas em frente a ele, não via mais ninguém, quase esquecera como eram as outras pessoas.
Mas um dia, improvisamente, vendo seu reflexo no vidro como estava acostumada a ver no espelho, aproximou-se da janela e vislumbrou a “infinitude” territorial do seu reino. Lá longe conseguia observar os pássaros planando em volta do cume das montanhas, as árvores floridas, as crianças correndo, os comerciantes na feira… Tudo era realmente lindo.
Havia esquecido do mundo e suas belezas depois que começou a passar horas, todos os dias, diante do espelho. Ali, a princesa se deu conta do quanto havia perdido. A dimensão sem medidas do mundo.
Daquele momento em diante ela dividia alternadamente o tempo em que olhava para si mesma, admirando as belezas que existem do outro lado da janela.
A primeira parte da história está no post A Princesa e a Coroa (https://escrevologoexisto.com/2007/04/05/a-princesa-e-a-coroa/)