Tive outro sonho.
Aqui, porém, não havia nenhum Jardim.
Via um corredor escuro que, como na paisagem de outrora, não conseguia ver os confins.
Estava preso dentro daquele claustrofóbico lugar , sozinho. De repente apareceu um grande telão com imagens da minha vida até agora. Tantos momentos, até esqueci onde estava e senti uma alegria discreta.
Percebia o quanto tinha recebido até então… Uma família maravilhosa, amigos verdadeiros, uma linda namorada, um trabalho, a possibilidade de estudar em uma excelente universidade sem pagar, poder fazer esportes… Não conseguia acompanhar todos àqueles dons, todas as coisas boas que tinha recebido até então.
Tão repentinamente quando apareceu, o telão desapareceu, e simultaneamente surgiram fotos ao longo do corredor.
Crianças nas ruas, deitadas, cheirando cola, pedindo esmola.
Velhos carregando papelão em seus carrinhos de mão.
Aquele senhor que me pediu um pãozinho quando saía apressado da padaria.
Eu conhecia aquela gente, aquelas pessoas! Tinha- as ignorado em diversas ocasiões.
Lembro que a minha aversão à esmola nem era justificativa, pois o Sr. José queria somente conversar comigo àquela noite.
Senti um arrependimento tomar conta de mim… tinha recebido tanto e via todos àqueles necessitados, incontáveis, que havia desprezado.
Quis subitamente acordar daquele pesadelo, mas era tarde.
A minha doação por eles, a minha oportunidade de “retribuir” à todas as graças que havia recebido tinha acabado.
Estava morto e o não poder mais amar, me fez entender que aquele corredor escuro do arrependimento era o Inferno.
Karina
Era um sonho…ainda BEM!Ainda há tempo!!! Tempo de retribuir, amar, olhar para todas essas pessoas e ao menos colocá-las no coração de DEUS quando nos sentimos incapzes de qualquer ato…Quantos sonhos, hein , Valter… Duas realidades tão misteriosas: PARAÌSO e o INFERNO…que noites intensas… mas a nossa vida é um caminhar para a eternidade!!VIVAMOS para contemplar a face do mais AMADO!!!
Tenho pensado tanto nisso esses dias…que alegria ainda respirar!!!Estamos unidos!
Vitor
Somos os curadores nesse museu do corredor-inferno, essas paredes são nossas! Podemos mudar um quadro de lugar, altura, iluminição… Mas podemos muito mais que isso, pois os curadores que somos aí é de uma arte muito além da plástica: a arte da vida, que é a arte do encontro (Vinícius).
Aquele quadro do morador de rua que olha infeliz para o espectador transformamos na cena do dia em que deixamos de ter medo e ouvimos sua história, repartimos um pouco da nossa comida como repartimos com um amigo, a família… E, o principal, repartirmos um respeito que temos e que, ao menos por algum momento, fez sentir-se digno, igualmente humano o nosso irmão.
Nos sentiremos no céu se soubermos que fizemos nosso máximo, no inferno se nos omitirmos e, se não soubermos o que fazer, sentiremos abandono… Mas, Valter, o primeiro passo no fazer alguma coisa a respeito é esse sentir que bate em nosso coração, escrever esse texto. Dele vem o agir. É o coração que faz você perceber o quanto do Amor pode ser posto vindo de suas mãos, vindo de seu olhar. Vindo do olhar de quem tem pão e a possibilidade de repartí-lo.