Tive outro sonho.
Aqui, porém, não havia nenhum Jardim.
Via um corredor escuro que, como na paisagem de outrora, não conseguia ver os confins.
Estava preso dentro daquele claustrofóbico lugar , sozinho. De repente apareceu um grande telão com imagens da minha vida até agora. Tantos momentos, até esqueci onde estava e senti uma alegria discreta.
Percebia o quanto tinha recebido até então… Uma família maravilhosa, amigos verdadeiros, uma linda namorada, um trabalho, a possibilidade de estudar em uma excelente universidade sem pagar, poder fazer esportes… Não conseguia acompanhar todos àqueles dons, todas as coisas boas que tinha recebido até então.
Tão repentinamente quando apareceu, o telão desapareceu, e simultaneamente surgiram fotos ao longo do corredor.
Crianças nas ruas, deitadas, cheirando cola, pedindo esmola.
Velhos carregando papelão em seus carrinhos de mão.
Aquele senhor que me pediu um pãozinho quando saía apressado da padaria.
Eu conhecia aquela gente, aquelas pessoas! Tinha- as ignorado em diversas ocasiões.
Lembro que a minha aversão à esmola nem era justificativa, pois o Sr. José queria somente conversar comigo àquela noite.
Senti um arrependimento tomar conta de mim… tinha recebido tanto e via todos àqueles necessitados, incontáveis, que havia desprezado.
Quis subitamente acordar daquele pesadelo, mas era tarde.
A minha doação por eles, a minha oportunidade de “retribuir” à todas as graças que havia recebido tinha acabado.
Estava morto e o não poder mais amar, me fez entender que aquele corredor escuro do arrependimento era o Inferno.