Lembro-me somente o momento em que encostei a cabeça no travesseiro, tentei recordar de algumas orações que faço habitualmente, mas o cansaço me consumiu e dormi…
Acordei em um jardim. Estava deitado e sentia algumas dores nas costas, como se tivesse dormido no chão e me dando conta de onde estava, vi que isso realmente tinha acontecido.
Levantando os olhos, percebi que estava em um lugar especial, um Jardim imenso, impossível de descrever até onde ia a linha do horizonte. Um gramado verde, desenhado como um tapete persa, com borboletas que preenchiam os espaços com suas asas coloridas e os pássaros que brincavam entre elas.
Caminhando, encontrei um jardim de orquídeas, iguais as que eu tinha visto no almanaque holandês. Todas de uma delicadeza e beleza incríveis. Que lugar era aquele? E o que eu estava fazendo ali?
Aproximei-me de uma das flores para analisá-la minuciosamente, comecei a perceber algo de interessante, uma sensação de já ter visto algo semelhante se apoderou de mim. Quem era ela? E quando ia tocá-la. Acordei.
Senti novamente aquelas dores de ter dormido em algo que certamente não era a minha cama. Lembrei-me que tinha mesmo dormido no chão, pois era uma das minhas penitências de Quaresma, mas aquele sonho… não conseguia entender… aonde estava e quem era aquela orquídea?
Passei o dia pensando naquilo que tinha vivido durante a manhã, procurando encontrar lógica em cada coisa. No final da noite, soube que a tia de uma amiga querida havia terminado de exercer seu papel no Grande Teatro, de maneira surpreendente, feliz.
Corri para me despedir dela e a vi vestida de um branco suave. Tantas coroas de flores. Senti uma sensação estranha, uma alegria desconfortante, parecia mesmo um Deja Vu. Então, quando vi a orquídea nas mãos da Tia Ro, acordei novamente. Era ela.
Vitor
Certos textos que leio me emocionam. O que eles contam, porque eles contam, qual a forma escolhida, a composição da idéia e da sensação do escritor em palavras, se faz arte, transforma a coisa no que ela realmente é. Esse seu texto me emocionou, Valter! Quê encontro com a vida que você teve (e não com a morte)! Lindo.