Demorei muito tempo para encher o meu copo com certezas, descobertas, passos, com tudo aquilo que a minha vida gerou e o que foi gerado nela. Passei minha infância e adolescência preenchendo tudo com meus sonhos, meus ideais, tantas vezes utópicos, mas que se tornaram cada vez mais EU.
Contudo, algumas experiências me pediram para esvaziá-lo, para dar espaço ao Divino. Tinha que perder tudo aquilo que construí, toda a minha segurança, para acolher o Novo. Mas o mais difícil era confiar que tudo seria ainda melhor do que já tive. E foi.
Esvaziado e cheio novamente, Ele agora me pede para perder tudo novamente. Porém, dessa vez, observando esse ato demente, captei no que se traduz essa renúncia pessoal de si mesmo.
Não é que perdemos nosso EU de modo único, dolorido, porém rápido. Esse “esvaziar o copo” é feito com conta gotas. Cada parte daquilo que foi construído, entendimentos consolidados, são retirados em doses homeopáticas. Assim, a perda parece constante, cotidiana.
Porém, percebe-se também que existe algo de grande nesse simples ato. Um desapego verdadeiro das próprias idéias a si mesmo, em prol de um desígnio misterioso, mas certamente, maravilhoso.
Deste modo, o copo passa a ser preenchido por algo ainda mais interessante do que tínhamos interiormente, pois a nossas capacidades são finitas, limitadas, enquanto o copo preenchido por Ele, tem efeitos infinitos.
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“Sabei reconhecer que não sois os donos de vós mesmos, e abri-vos Àquele que vos criou por amor e quer fazer de vós pessoas dignas, livres e belas. Encorajo-vos nesta atitude de confiante abertura: aprendei a ouvir no silêncio a voz de Deus, que fala ao íntimo de cada um; lançai bases sólidas e firmes na construção do edifício da vossa vida; não tenhais medo do empenho e do sacrifício, que hoje requerem um grande investimento de forças, mas que são garantia do sucesso de amanhã. Descobri a verdade acerca de vós próprios e não cessarão de se abrir novos horizontes diante de vós.” (João Paulo II)