Livres

A tudo aquilo que éramos constrangidos, as pressões sociais moralistas, o machismo, de tudo isso somos agora livres.

Pode-se agora não envergonhar-se da falta de vergonha, exprimir-se de modo transparente, sem a supressão do nosso egoísmo. Contudo, me pergunto se encontramos pessoas mais realizadas, casais mais felizes, jovens sentimentalmente seguros.

O consumismo sentimental, um dos artifícios da “ditadura da razão”, incutiu a cultura do “faço aquilo que sinto”, desprezando toda a inteligência que nos diferencia dos outros animais. São eles que agem por instinto.

Também o novo conceito de liberdade, de fazer aquilo que quero, nos permite abraçar os condicionamentos que a cultura liberista proporciona, sendo que liberdade deveria ser libertar-se de qualquer condição para realizar nosso objetivo de vida.

Porém a renúncia faz parte do caminho a ser percorrido. Escolher sempre implica em um sim que decorre de um não (e vice-versa).

Hoje somos relativamente livres para traçar nossos caminhos, podemos ser nós mesmos, mas é preciso estar conscientes de que as pressões sociais ainda existem, estão transfiguradas na falsa idéia de respeito ao individualismo.

O mais importante é não deixar-nos ser levados pelo sentimento isento de razão. É a inteligência, a capacidade de pensar, que nos faz Homo Sapiens. Não podemos ser ingênuos ao ponto de não perceber que estamos constantemente sendo bombardeados por conceitos de liberdade e felicidade ilusórios.

Eu sempre me pergunto se a felicidade não provém da medida na qual nos propomos a viver pelos outros.