Ofertório

Depois de ouvir o que o meu Amigo disse, enfiei a mão no bolso pra ver se encontrava alguma moeda para oferecer. Senti somente resquícios de tecido e o folder de corretora de seguros amassado. Passaria em vão daquele Ofertório.

Ao deixar a Sua casa, lembrei que até minha namorada me havia recusado um abraço no momento difícil em que eu vivia e, chegando na minha, fui ignorado pelos meus pais, que preferiam dar atenção aos personagens do Big Brother.

Nessa constante busca de viver pelos outros, de esquecer limites, fraquezas, que muitas vezes geram desentendimentos e sofrimentos, me vejo sempre diante de obstáculos interiores quase sempre intransponíveis.

Todos os meus pensamentos, a postura hedonista que tenho diante das coisas e das pessoas, têm um significado, um motivo, aparentemente imperceptível, pois a vida na metrópole nos impulsiona a cada vez mais fazer e menos pensar.

Assim, deixo de viver pelos outros, me fecho nesse meu eu, limitado, se isolado, sem sentido sozinho e conseqüentemente as crises, questionamentos, dúvidas, adquirem proporções inimagináveis.

Saio do banho pensando em tudo isso. No quanto falta fazer a minha parte… Preciso ser mais consciente, coerente, menos máquina e mais amor.

A subjetividade desses “filosofismos” desaparece quando vejo a presença de tantas pessoas que caminham ao meu lado, que muitas vezes passam batidas, mas que são peças-chave para que eu viva a minha experiência de sujeito empírico até o fim.

Amanhã, quando encontrar meu Amigo, terei muito para oferecer: minha alma, meu ser, meu SIM.