Filme feliz

Filme feliz

Caminhando pela rua vejo um homem que observa dois pássaros cantando sobre uma árvore, aparentemente comum. Percebo que ele procura afinar o assobio para estar em uníssono com as avezinhas.

Empolgado com aquilo que via, um casal de velhinhos que passava ao lado começou a dançar uma harmoniosa valsa, que arrancou aplausos daqueles que podiam desfrutar do pequeno espetáculo do acaso.

Tanta felicidade convidou às pessoas a dançarem e em poucos minutos a calçada das ruas do Centro parecia uma pista de dança do que poderia ser um baile típico dos anos 70. (ou seriam 80?)

Todos pareciam desempenhar bem seus papeis no show armado. Todos estavam exprimindo uma felicidade atípica, incômoda, contra os paradigmas do “anti-social” modo de portar-se diante das pessoas e das situações.

O papel de cada personagem era seguir o fluxo, trabalhar, estudar, conquistar, ser, consumir. Porém, de alguma forma, aquele baile parecia fazer brotar uma nova concepção de vida, o desabrochar de um novo modo de atuar na sociedade, nesse lampejo de existência em que somos convidados.

Hoje, continuamos a representar, a sermos personagens deste mundo imaginário, mas agora, ao menos procuramos atuar em um filme feliz.

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1 Comment

  1. Flavia

    É, esses dias eu também estava caminhando pelas ruas, para ser mais precisa eu estava caminhando no calçadão de uma das praias de São Vicente e me deparei com um “filme feliz”. Foram juntando pessoas, estas atraiam outras, fazendo ficar disputado um espaço na areia. Ao contrário do homem que afinou o assobio, a pessoa que chamava a atenção era um piadista e cantor, que dizia já ter ido em vários programas populares. Não tinha casal de velhinhos, mas tinham mendigos que começaram a se reunir e a dançar, sem medo do que os “classe média” iriam pensar. A felicidade deles fez com que todo mundo começasse olhar e rir, não do “mico” que eles estavam pagando, mas da alegria que eles conseguiam ter, mesmo vivendo ao meio de tanto sofrimento. Aquele espaço na praia não parecia um baile dos anos 70, mas um típico baile brega, aqueles que todo mundo se diverte, mas que ninguém assume gostar. Ao contrário dos estudantes e trabalhadores, lá todo mundo empenhava bem o papel de “não fazer nada”, afinal todos estavam de férias, curtindo o carnaval. E é claro, continuamos empenhando bem nossos papéis, no meu caso, aprendendo uma lição com os “dançarinos”.

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