Caminhando pela rua vejo um homem que observa dois pássaros cantando sobre uma árvore, aparentemente comum. Percebo que ele procura afinar o assobio para estar em uníssono com as avezinhas.
Empolgado com aquilo que via, um casal de velhinhos que passava ao lado começou a dançar uma harmoniosa valsa, que arrancou aplausos daqueles que podiam desfrutar do pequeno espetáculo do acaso.
Tanta felicidade convidou às pessoas a dançarem e em poucos minutos a calçada das ruas do Centro parecia uma pista de dança do que poderia ser um baile típico dos anos 70. (ou seriam 80?)
Todos pareciam desempenhar bem seus papeis no show armado. Todos estavam exprimindo uma felicidade atípica, incômoda, contra os paradigmas do “anti-social” modo de portar-se diante das pessoas e das situações.
O papel de cada personagem era seguir o fluxo, trabalhar, estudar, conquistar, ser, consumir. Porém, de alguma forma, aquele baile parecia fazer brotar uma nova concepção de vida, o desabrochar de um novo modo de atuar na sociedade, nesse lampejo de existência em que somos convidados.
Hoje, continuamos a representar, a sermos personagens deste mundo imaginário, mas agora, ao menos procuramos atuar em um filme feliz.