Somos assassinos

Somos assassinos

Ligo a TV me assusto com aquilo que o mundo virtual quer me impor… São muitos watts de informação mastigada, superficial e sem escrúpulos.

O episódio do assassinato do menino, brutalmente arrastado por quase 10kms. é um exemplo fresco.

Assistindo o Fantástico ontem, senti certo repúdio no modo como os meios de comunicação dramatizam um acontecimento tão sério, um problema crônico.

Apontar um culpado, incriminar de forma revoltosa os adolescentes que praticaram o roubo que resultou na morte do menino de 6 anos é simplificar a realidade que existe e assola o Brasil há muito tempo.

Ninguém se sente assassino por estar omisso e passivo em relação à pobreza, a desigualdade social, que para muitos, meia dúzia de assistencialismos resolvem o problema e acalmam a alma de quem os pratica.

Certamente esses adolescentes pagarão com as suas vidas pela morte desse garoto… serão talvez estuprados, massacrados, pelo horrendo ato que cometeram, mas NADA vai trazer de volta a vida daquele menino e a alegria da sua família.

Andando pelas ruas do centro de São Paulo, no caminho para o meu trabalho, vejo ao menos uma meia dúzia de mendigos, bêbados, deitados e jogados pelo chão… porém o que mais me incomoda são as crianças… imundas, esparramadas pelas calçadas, como lixo.

Essas crianças sem futuro, sem oportunidades, sem pais, certamente não se importam em perder sua liberdade e suas vidas, porque nunca tiveram nada. Elas crescem banalizadas, refugo social, mas procuram seu espaço, que é sempre negado pela nossa postura egoísta, omissa e passiva.

A culpa é desses meninos?? Não… é minha.

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2 Comments

  1. Flavia

    Valter, assisti ao fantastico ontem e também me senti em um bombardeio de emoções, infelizmente pelo ibope, pelo contrário do que foi dito. A um tempo atras um casal foi brutalmente assassinado por um menor, todo mundo se lembra deste fato, os namodados que foram acampar e acabaram mortos. A televisão também tornou isto um espetáculo, filmaram os pais comovidos e passaram um mês na televisão. Resultado, a pena minima continuou 18 anos e a FEBEM continuou a festa que é. Todos sabemos que os governantes tem que montar o alicerce, mas ao contrário disto, notamos um horror de acontecimentos e cada vez mais leis para tentarem contornar isto. Como você disse, os culpados somos nós, assassinos como um dia rotulou, mais assassinos ainda são os “manda chuvas” de todos os países, não apenas do Brasil, que mantém a massa ignorante afim de atingirem o reinado pleno. Enfim, basta vivermos e tentarmos passar um pouco do que sabemos, acho que estamos no caminho certo né? Parabéns pelo seu texto!

  2. Vanessa Correia

    O que aconteceu com João Hélio foi um dos gritos mais altos de um limite que já se impõe há muito tempo. O assassinato dele causou um dor profunda, de verdade. A barbaridade do crime representa um dos mais trágicos episódios de banalização da vida.
    Uma banalização que começa com uma exclusão estridente. Com uma desigualdade que agride crianças, jovens, adultos. Então, debater sobre a redução da maioridade penal é apenas mais uma agressão que resulta em mais violência, mais exclusão e mais banalização.
    A comoção que a imprensa está tentando causar com a morte do garoto, infelizmente, é usada para o mal. Porque o debate punitivo serve apenas para gerar mais revolta e irracionalidade. Ninguém pensa numa solução que seja razoável e não imediatista. Justiça tem de ser justiça e não vingança, retaliação. Parabéns pelo texto e pela percepção.

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